Por Renato Rosatti
A noite estava fria, escura e chuvosa. Perdido na floresta, no meio de mais uma guerra insana, eu estava ferido e à beira de um colapso emocional. Eu me perdera do pelotão numa batalha e vagava agora sozinho em meio à mata, carregando a dor de um projétil que se alojara em meu ombro e questionava incessantemente o horror real à minha volta, e a barbárie insensata da guerra.
Solitário, com frio, dor, cansaço, e com a escuridão me engolindo em suas entranhas e ocultando medos e pavores no desconhecido. Quanto à guerra, eu pensava com indignação qual o seu propósito, e consegui concluir, envergonhado de minha própria humanidade, que qualquer diferença entre os povos não deveria ser negociada com tanta violência e irracionalidade. Matar para não morrer. Destruir a natureza. Combater a vida trilhando marchas fúnebres e saudando a soberana morte, vencedora triunfal de todas as batalhas. Ferir, mutilar, proporcionar o sofrimento e a dor em meus semelhantes, matar e se congratular de minha superioridade frente ao inimigo. Tudo é insano e sem sentido.
Ali, na escuridão, ferido, perdido num inferno criado pela minha própria espécie, eu continuava meus pensamentos e começava agora a delirar ao tentar entender a guerra. E visões também começavam a surgir à minha volta. Explosões, disparos de projéteis, gritos de dor, cheiro de sangue coagulado no ar, morte. Cenas de horror real em estado puro e absoluto. Delírios, visões... Sozinho, no escuro, dor, frio, o inferno... a guerra...
Foi quando eu ouvi uma voz gutural, rouca, pavorosa, ecoar em meus ouvidos em meio às visões e ruídos do caos de meus delírios. Parecia um som sobrenatural, vindo da podridão do além, do desconhecido, como um lamento grotesco de uma legião de criaturas agonizantes e desesperadas. As palavras traduziam a dor profunda da guerra e me incitavam a obter a minha paz eterna. Sons guturais e distorcidos que gritavam pelo fim da loucura e sofrimento. Delírios, visões, mensagens...
Eu, esgotado física e psicologicamente, esforcei-me em minhas poucas energias, peguei minha metralhadora, apontei para a própria cabeça, e sem hesitação disparei explodindo meu cérebro, cujos pedaços misturaram-se com a mata, agora vermelha de meu sangue, o sangue de outra vítima.
Para mim, a guerra finalmente acabava...
E o pesadelo também, acordando desesperado, mergulhado em suor...
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