Andrei Bressan |
Primeiramente, gostaria de pedir para que você fizesse uma breve apresentação aos nossos leitores, falando sobre seu envolvimento com as histórias em quadrinhos:
Sou de Piracicaba, interior de São Paulo. Como todos os colegas, comecei a ler quando criança... levou anos pra acabar sendo uma realização profissional. Durante a maior parte do tempo era só um sonho meu. Não achava que seria possível, mesmo sabendo de vários brasileiros trabalhando nos quadrinhos. A coisa só aconteceu de verdade a partir de 2001... fazia Publicidade e Propaganda. Tive um sério acidente de carro... bati a cabeça, fiquei com amnésia... foi pesado, achei que não me recuperaria. Após a recuperação decidi mudar o rumo das coisas. Não dava pra ignorar mais aquele impulso, não dava mais pra armazenar sonhos. Tinha que virar realidade. E acabei indo pra Unicamp estudar arte clássica, mas foi só com o pessoal da Quanta que a coisa realmente aconteceu. Foi ali que dei o polimento gráfico necessário para os quadrinhos.
Você é um daqueles casos de quadrinistas brasileiros que fazem muito mais sucesso no exterior do que no Brasil. Como é conviver com essa realidade?
Acho que faz parte. O Birthright ainda não saiu por aqui e some-se o fato de não ter um estilo com o apelo mais tradicional dos Comics de heróis. Veja bem, não se trata aqui de criticar o gênero, mas sim de reconhecer onde meu trabalho funciona melhor.
Como surgiu a oportunidade de trabalhar para grandes editoras dos EUA, como DC e Image Comics?
Surgiu de uma sample do Gambit que fiz em 2009... O Rafael Brizola escreveu uma história “resposta” a uma HQ que a Marvel lançou para promover o Gambit no filme do Wolverine. Na época dividia um estúdio com o colorista Marcelo Maiolo que topou fazer as cores nessa sequência. Acabou dando certo e isso chamou a atenção do Joe Prado, que desde aquele momento, veio a ser nosso agente.
Em termos de reconhecimento e compensação financeira, como se poderia comparar o mercado de HQs brasileiro com o dos EUA?
Não tenho experiência com o nosso mercado nacional de quadrinhos... Não conheço essa realidade sob a vivência de um autor de HQs, por exemplo. Trabalhar pra fora toma muito tempo e dedicação. O máximo que fiz foram ilustrações didáticas e material publicitário pro mercado nacional editorial. Nesse sentido não dá pra comparar muito.
Durante sua carreira internacional, você desenhou HQs de personagens clássicos, de enorme sucesso e prestígio, como Batman, Lanterna Verde e Esquadrão Suicida. Fale um pouco sobre essa experiência.
Foi tudo muito intenso e bastante complexo. Começa pela realidade brutal do tempo. Você tem que entregar no prazo! Você queima teu amor na primeira semana se vacilar... Leva tempo pra entender o esforço necessário pra fechar uma edição. Crescemos do outro lado da mesa, como leitores. Naturalmente, isso gera bastante idealização do trabalho, é normal. Compomos uma realidade que cabe no tamanho exato da fantasia. É lindo, desconhecer a realidade faz tudo parecer incrível. E não resta dúvida de que o trabalho acaba se alimentando dessa energia. Veja bem... ao “chegar lá”, ciente da conquista do tão desejado sonho, é de imediato a aniquilação do mesmo. Você embarca numa outra jornada, que é a realidade de trabalho. Passa muito brevemente de realização de um sonho para aprender a correr uma maratona. São km de páginas! É obrigatório se conhecer pra dar conta desse ritmo. Imperativo de verdade. Saber o que é capaz de fazer numa janela de tempo é o que determina nossa caminhada. O amor com o qual embarcamos passa a dar espaço a nossa maturidade... passamos a entender o que é, na realidade, ser um desenhista sob o aspecto profissional. Ainda se trata de uma forma de amor, mas jamais nutrida por fantasia ou idealização. Ou você passa a amar as horas que oferta nesse altar ou passa a idealizar um novo sonho.
Um dos meus personagens favoritos da DC é o Monstro do Pântano. Você o desenhou em um momento em que os roteiros estavam a cargo de Charles Soule, em uma fase que, na opinião de muitos fã – inclusive na minha – é uma das melhores desde Alan Moore. O que você pode compartilhar conosco sobre esse trabalho?
Na época foi uma surpresa. Das boas! Não acompanhava o Soule no Monstro do Pântano. Estava trabalhando nos Lanternas Verdes e o tempo livre acaba sendo pra fazer outras coisas... e foi muito satisfatório descobrir o talento dele na medida em que embarcava no texto. Jurava que faríamos mais coisas, corri atrás dos números anteriores, mas no final da edição meu editor atual, o Sean me convidou pro Birthright. Encontrei o Soule anos depois, conversamos um pouco durante uma convenção, mas acaba sendo tanta coisa e projetos diferentes que não fizemos mais nada juntos.
Nos conhecemos em uma comunidade sobre lobisomens na extinta rede social Orkut, quando você compartilhou algumas belíssimas ilustrações envolvendo licantropos. Qual o seu sentimento sobre essas criaturas mitológicas?
Meu sentimento? Haha, pura devoção. Foi meu primeiro amigo, o mais leal. Eu era criança e entendia que o Lobisomem me visitava na TV. A periodicidade do seriado que passava “toda sexta” (Nota do editor: o seriado em questão era “O Lobisomem ataca de novo”) era entendida como um pacto de amizade. Minha adoração permitiu trazer um Licantropo(s) para as páginas do Birthright na edição 42. Foi tão apreciado que acabou se tornando um personagem da série.
Você desenhou as capas dos meus livros de lobisomens, e também fez as ilustrações internas do Na Próxima Lua Cheia. O que esses trabalhos representaram para a sua trajetória?
Foi minha primeira oportunidade
de exercitar essa antiga veneração pelas criaturas. Foi também um grande
laboratório de nanquim. Me envolvi muito nas ilustrações. Queria que cada uma
tivesse uma força e autonomia, mesmo quando os monstros não estavam nelas.
Para concluir, gostaria de pedir para você nos falar um pouco sobre seus projetos atuais e como os leitores do blog podem ter contato com o seu trabalho:
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