Um conto do Neculai
Por Adriano Siqueira
─ Alô!
─ Não sei quem é você mas se for amigo da Nathalia eu não tenho nada para falar. Mas... que porcaria é essa? Meu celular não desliga! Alô?
─ Tenta tirar a bateria Raul. Vai ver que mesmo assim ele irá funcionar. Quero falar com você.
─ O que fez com meu celular? Quem você pensa que é?
─ Meu nome é Neculai!
─ Não estou entendendo nada.
─ A Nathalia queria casar com você. Confiou em você. Pegou todo o dinheiro dela. Toda as economias do casamento e agora vai fugir. Talvez procurar outra pessoa para cair na sua conversa.
─ Isso não é da sua conta!
─ É sim! Eu queria ela, mas o sangue dela não estaria com o gosto que quero. Descobri o motivo dela estar e soube da sua história. Peguei o seu número de celular e estamos aqui falando alegremente.
─ Não vai me pegar. Eu já estou saindo do prédio.
─ Ah certo! É exatamente este o seu problema. Antes de ligar para você eu liguei para algumas pessoas. Pessoas que amam outras pessoas e elas fariam de tudo para mantê-las vivas. Conversei com o eletricista e ele travou seu elevador. Sei que mora no décimo andar. Será uma longa caminhada até o térreo. Vai ter que descer pelas escadas.
─ Eu não sei quem é você mas vai pagar pelo que está fazendo.
─ Não fique de mau humor. Pense positivo. São só 10 andares. Eu poderia empurrá-lo pela janela se eu quisesse. Mas estou te dando uma chance. Afinal sou um bom camarada. Você só tem que descer as escadas e seu carro estará na porta. Pronto! Vai estar livre para aprontar com qualquer pessoa que quiser. Simples assim.
─ Não tenho medo de você! Tá me ouvindo?
─ Gosto de sentir você. Sua ganância por dinheiro e poder e sua obsessão de roubar os outros usando sua beleza e seu sorriso me deixa com muita vontade de sugar todo o seu sangue. Agora pegue a sua sacola cheia de dinheiro e desça as escadas e continue falando comigo.
─ Tudo bem! Tudo bem! só quero sair daqui.
─ Só tome cuidado.
─ Com o quê? Argh... Me feriram me cortaram! Sai...
─ Isso Raul! Esta é a senhora Délia. Eu disse para ela que se não esfaqueasse o homem na escada ela perderia a neta.
─ Desgraçado! estou sangrando!
─ Continue descendo ou os outros cinco que falei pegarão você e ficará todo furado.
─ Eu vou conseguir maldito. Arghhhh
─ Vejo que encontrou mais vizinhos sedentos.
─ Me soltem! Arghh. Eles estão com facas. Socorro!
─ Mas agora falta pouco Raul! Corre!
─ Arghhh! O corrimão de ferro está eletrificado!
─ Ah sim! Isso é presente do eletricista. E bom correr ou não vai sobrar de você para dar o próximo golpe!
─ Falta só um andar seu maluco. Eu vou sair dessa e você nunca mais vai me encontrar. Só um andar! Eu vou ficar livre dessa loucura! Espera! Ha ha ha Neculai! Acha que essa criança na escada segurando uma pistola d´água vai me impedir? Ha ha ha! Acha que eu não faria mal a ela para conquistar meu propósito. Acha que eu tenho alguma Moral ou consciência pesada?
─ Conto com isso Raul!
─ Sai da minha frente fedelho!
─ Não deveria tratar as crianças assim Raul... Ainda mais se elas estão armadas com ácido.
─ O que? NAArghhhhhhh.. Meu rosto! Meu rosto!
─ Isso foi gostoso de ver! Você gravou isso em em vídeo Raul? queria colocar online.
─ M-maldito! V-você vai pagar! Vem aqui! Não. Como chegou tão rápido? Se afaste Vampiro... Não vai me matar não vaaaarrrggh....
─ Ah... Que cheiro maravilhosos o seu sangue tem Raul. Olha só como cada gota eu aprecio em minha boca. Você certamente é de uma safra muito rara. Pânico, Desespero, Dor, Medo... tudo junto com seu sangue que agora eu possuo. O ácido derretendo a sua pele. Dá um cheiro singular junto com todos os seus sentimentos temperados. Um jantar para poucos. Valeu cada gota... Agora vou me divertir o resto da noite.
*
─ Alô!
─ Não faça isso Nathalia. Ele não vale sua vida.
─ Quem se importa? Fui completamente incompetente. Ninguém seria tão idiota em acreditar nesta história do Raul. Mas eu acreditei e paguei por isso. Não sei quem é você mas este mundo não me merece. E quem é você posso saber?
─ Neculai! Recuperei o seu dinheiro. Está no seu carro.
─ Mas como? Não é só o dinheiro. Meu coração, meus sentimentos a minha raiva. Isso nunca vai desaparecer.
─ Não precisa gritar Nathalia. Eu estou aqui. Você me sente?
─ S-sim. M-mas não entendo. Você estava no celular e agora bem aqui. Como faz isso?
─ Sente minhas mãos.
─ Simm! São... E-eu. M-mas. Seus olhos...
─ Eu não sou humano. Meus olhos são a minha maldição. Quem olha para eles, aceita minhas verdades. No momento, quero apenas que renasça, recomece e reconstrua sua vida.
─ S-sim. Mas p-por favor não me solte. eu...
─ Tenho que ir. A noite ainda me quer por perto...
─ M-mas eu...
─ Sou um assassino! Um monstro! Minha fome precisa ser saciada. De qualquer forma, eu tenho seu número. Não encare este fato com alegria! Costumo causar desespero e medo quando desejo alguém.
─ Vou estar sempre aqui Neculai.
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