Já passava da meia-noite quando o garoto adentrou alvoroçadamente no quarto da irmã mais velha com o celular em mãos.
– Que susto, Bernardo! – reclamou Betina, que ainda estava acordada, manuseando o notebook sobre a cama – Como é que você vai se metendo no meu quarto assim, uma hora dessas?!
– Mana, preciso te pedir uma coisa... – disse o garoto, ignorando a bronca da irmã e aparentando estar ansioso e constrangido ao mesmo tempo.
– Pedir o que, moleque?! Você já devia estar dormindo! Amanhã cedo tem aula.
– Você tem alguma nude para me passar? – questionou Bernardo, com voz trêmula.
– Meu Deus! – gritou Betina, quase partindo para cima do garoto – Isso é coisa que se peça para a própria irmã, seu tarado?! Era só o que me faltava: um irmão pervertido! Vou contar pra mãe e você vai ver!
– Não é nada disso! – se defendeu Bernardo, gaguejando – Não é para mim, não. É que eu preciso enviar para esse aplicativo.
– Que aplicativo?! Que história é essa?! – perguntou a garota, parecendo cada vez mais irritada.
– O nome do aplicativo é Dillodoker: Burning Nudes. – explicou o garoto, inquieto – Funciona assim: você pode baixar um nude de alguém que está lá e em troca tem que enviar outro, dentro de 3 minutos e 33 segundos. Mas tem que ser uma foto original, porque se for baixada da internet eles rastreiam e bloqueiam.
– Que absurdo! – esbravejou Betina – Você nem tem idade para essas putarias! Onde baixou essa merda de aplicativo?!
– Só tem na Deep Web. – respondeu Bernardo, sem disfarçar o constrangimento.
– Na Deep Web?! – gritou a garota, levando as mãos à cabeça – Você é louco?! Nesse negócio só tem psicopata e pedófilo! Eu disse que o pai devia ficar de olho no que você andava acessando.
– Os meus colegas de aula também acessam. – tentou justificar o garoto.
– Porque são uns retardados igual a você!
– Olha, mana... – disse o cada vez mais ansioso Bernardo, apontando para o celular – Quando você baixa uma foto abre uma contagem regressiva para enviar uma de volta... e agora já está quase acabando!
– Eu não vou lhe passar nude nenhum, seu babaca! – gritou Betina, dando um tapa no ombro do irmão – Por que não manda uma foto sua, hein, seu depravado!
– Eu já mandei... antes.
A discussão entre os irmãos foi subitamente interrompida quando o smartphone de Bernardo começou a emitir uma luminosidade vermelha que ficava piscando enquanto um som de bipe passou a soar de forma cada vez mais acelerada, como se fosse um alerta.
– Falta menos de 10 segundos... – disse o garoto, de forma tensa – E o telefone está esquentando pra caramba...
– O que acontece quando o tempo zerar? – perguntou Betina, pela primeira vez parecendo realmente preocupada.
– Não sei... – respondeu Bernardo, arregalando os olhos em uma expressão de pavor.
E não houve tempo para mais nada. O celular explodiu de forma aterradora nas mãos do garoto e imediatamente as chamas se alastraram pelas mangas do seu pijama.
Quando os pais invadiram o quarto, atraídos pelo insólito estrondo, tiveram suas narinas tomadas pelo repulsivo fedor de carne e cabelos queimados que impregnava o ambiente. Horrorizados, viram Betina, encolhida em um canto, chorando de forma estridente e Bernardo, com o corpo completamente envolto pelas chamas, trombando de encontro às paredes, gritando em agonia.
Por André Bozzetto Jr
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