Por André Bozzetto Jr
É um caminho que jamais esteve em qualquer mapa. Surgiu em uma longínqua era passada, já encoberta pelas inexoráveis poeiras do tempo. Teve origem na mente do primeiro homem que entendeu como uma ilusão a frágil estrutura que considerava ser a realidade e, uma vez desperto, quis partir para além dos limites que o aprisionavam. Desde então, todo aquele que um dia desejou fugir, sonhou em ir embora, ou fantasiou com novos rumos, acabou por acrescentar alguns quilômetros a mais nessa via arquetípica. No passado era composta por terra ou areia, porque não havia nada diferente para servir de pavimento. Com o tempo, vieram as pedras, as pontes, os túneis, o asfalto e os viadutos. Hoje ela pode ter qualquer formato – todas as formas que a mente humana já concebeu. Quem faz a paisagem é olho do viajante.
É uma via idílica, fomentada pelas esperanças de quem botou a mochila nas costas e partiu ao amanhecer, tendo o sol nascente como guia. Mas também é uma rota assombrada pelos fantasmas daqueles que se perderam, vindos não se sabe de onde, com destinos aos quais nunca chegaram.
A estrada não leva a lugar nenhum por que ela não tem ponto de chegada. Nunca termina. Tal qual ouroboros, é uma serpente que morde a própria cauda. Um caminho que se desdobra sobre si próprio. Um simulacro de viagem, que quando parece estar se aproximando da conclusão, se reconfigura em um novo começo. Ela não é um fim em si mesma, mas apenas um subterfúgio para a jornada do viajante. Não é intrinsecamente real até que o viajante a torne real e, por isso mesmo, é uma rota que não pode ser concluída, apenas transcendida.
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