3 de out. de 2023

CRÍTICA DO FILME: ROMASANTA - A CASA DA BESTA

 

Por André Bozzetto Jr

 

       Inicialmente, é preciso fazer a ressalva de que, para curtir adequadamente essa produção espanhola de 2004, é necessário que se evite o impulso natural que temos de sempre associar os filmes recentes que assistimos com outros clássicos do seu respectivo gênero. Esqueça filmes como “A Hora do Lobisomem”, “Grito de Horror” ou “Um Lobisomem americano em Londres”. Esse “Romasanta” é totalmente diferente, e poderia se enquadrado muito mais no gênero drama do que propriamente terror.

       Provavelmente para os apreciadores de filmes de horror, o primeiro nome que chama a atenção quando os créditos surgem na tela é o do produtor Brian Yuzna, responsável pela produção da cultuada franquia “Re-Animator” (sendo que também dirigiu o 2º e o 3º filme da série) e também encarregado da direção de filmes como “A Volta dos Mortos-vivos 3” e o hiper-trash “O Dentista”. O elenco também possui alguns nomes conhecidos, como Julian Sands – falecido recentemente, em 2023 – (“Aracnofobia”, “Warlock – O Demônio”, “Encaixotando Helena”) no papel de Romasanta, a belíssima Elsa Pataky (Beyond Re-animator) e John Sharian, que já fez participações em filmes como “O Operário”, “Drácula II: Ascensão” e “O Resgate do Soldado Ryan”.

       Dirigido pelo então desconhecido Paco Plaza – que posteriormente ficou mundialmente famoso ao dirigir junto com Jaume Balagueró o clássico REC, de 2007 – essa obra mostra uma história supostamente inspirada em um caso real acontecido na Espanha em 1852, quando um tal Manuel Blanco Romasanta foi preso por ter assassinado mais de dez pessoas, e no seu julgamento alegou ter cometido os crimes por se transformar em lobisomem.O filme tem um desenvolvimento lento, mais calcado nos diálogos do que nas cenas de ação, o que pode se revelar um tanto quanto chato para quem aprecia filmes mais dinâmicos e agitados. De qualquer forma, é interessante salientar que a obra se desenvolve em meio a uma ambientação um tanto quanto obscura, e por diversos momentos apresenta algumas cenas bastante pesadas, não economizando no sangue, e mostrando explicitamente imagens de mutilações, animais esquartejados, cadáveres putrefatos e até algumas ousadas cenas de nudez (masculina e feminina). Em uma dessas cenas, em especial, uma garota está tomando banho em uma espécie de banheira improvisada, quando o personagem de Julian Sands chega e começa a masturbá-la. Algo que chama a atenção por nos fazer pensar o quanto seria improvável de se ver cena semelhante na maioria filmes americanos atuais, onde a “caretice” e a censura parecem estar voltando a imperar.

       Um dos pontos altos do filme é a convincente atuação de Julian Sands, que consegue conferir uma personalidade tridimensional ao seu personagem, que hora age com astúcia e fúria no encalço de suas vítimas, e em outros momentos se mostra melancólico e deprimido por ver sua vida seguir um caminho de violência e morte do qual não consegue se livrar.

       Também é interessante a abordagem que é dada para a questão da licantropia, que era vista pelos personagens de forma misteriosa e controversa, apontada por alguns como uma simples, porém pouco conhecida doença mental, e por outros como algo verdadeiramente maldito, obra do diabo.

       Temos ainda uma interessante e nojenta cena de metamorfose, de uma forma bem diferente do que costumamos a ver nos filmes do gênero.

       Entre os aspectos negativos, chama a atenção a já mencionada lentidão, que torna o ritmo do filme irregular e um pouco maçante em alguns momentos, e também a indecisão que marca tanto o roteiro como a própria direção do trabalho, fazendo com que a obra não se defina em apostar em um drama obscuro ou descambar para o terror propriamente dito. O resultado parece ter ficado em um meio termo onde temos a nítida impressão de que faltou alguma coisa para que o filme engrenasse de vez.

       Também não se pode deixar de mencionar o ridículo subtítulo nacional, afinal em nenhum momento o filme concentra suas ações relevantes em uma casa, fazendo que esse “A Casa da Besta” soe tão falso quanto apelativo.

       No geral, “Romasanta” não chega a ser um grande filme, não vai se tornar um clássico do gênero, mas é uma obra bastante original e instigante, e que, ao meu ver, vale a pena ser conhecida.

 

NOTA: As críticas desta seção foram escritas originalmente no início dos anos 2000 e publicadas em diversos sites e blogs da época. Este texto, particularmente, passou por pequenas atualizações para citar a morte de Julian Sands e o sucesso posterior de Paco Plaza.

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