Por Clayton Alexandre Zocarato
Por aqueles corredores sinistros, muitas vidas foram mitigadas a ser somente um resquício de dignidade, sendo os barulhos e gritos de eletrochoques algo de muito costumeiro.
Muitos dos seus internos foram classificados como a vergonha da família, e para não manchar a ilibação de suas tradicionais e hipócritas posturas eugênicas dentro da sociedade civil enviavam todos os "seus filhos imperfeitos", para aquele confinamento humano miserável e execrável.
Não havia nenhuma piedade ou clemência, somente uma sensação de que a loucura ali permaneceria para sempre, sem nenhum tipo de misericórdia, e pelo qual também não caberia qualquer tipo de misericórdia ou compaixão.
Muitos experimentos foram feitos, ressuscitando alcunhas monstruosas do Doutor Josef Mengele, e que em nome da ciência vieram a trazerem muitos infortúnios perante uma ética da ciência, que pudesse tratar todas aquelas pessoas com alguma ternura.
Ética pela qual, muitos de seus “pseudo-doutores”, tratavam a maioria dos pacientes com uma irracionalidade beirando o animalesco.
Os Sanatórios recebiam (e ainda recebem!) de tudo.
Bastardos, Filhos e Filhas com vícios em entorpecentes, dementes, esquizofrênicos, grávidas em tenra idade, velhos caducos e debilitados que as famílias desejam se livrarem a todo custo, desfigurados corporais, bandidos de todas as estirpes, psicóticos, esquizofrênicos, intelectuais subversivos, presos políticos...
O cardápio de aberrações e injustiças são e eram diversificados.
Ficavam aquartelados por entre seus terrores reais e fabricados por psico-fármacos, estando solitariamente mercê de algum tipo de piedade, mas que com a brevidade o longevidade de suas vidas, em muitos casos a revelia da vontade dos “seus cuidadores e tratores”, sendo a morte um alento, perante tanto desalento e abandono.
Todavia, a fidelidade de seus algozes eram pontuais.
Para aperfeiçoar suas experiências a burocracia dos seus cotidianos, criavam todo o tipo de tortura, desde o uso de ratos a serem transportados para minúsculas salas com pacientes tendo que dividir seus espaços com moribundos, que desejavam mesmo dentro de sua demência, saírem daquele estado humanos paupérrimo pelos quais ainda se olhavam dentro de si mesmo como sendo um dia retrato de um ser humano, como uso de jatos d’água em noites frias, e depois serem alojados em espaços taciturnos contendo o frio como uma companhia constante.
Os sanatórios são um peremptório de distúrbios, em acusarem, que algumas parcelas dos homens falharam na sua condição dialética, de auferir algum tipo de conhecimento que assim viesse a respeitar todas as nossas diferenças.
Diferenças essas que eram revertidas, para um mar de indiferenças, que viessem assim a rastejarem, alguma tipologia de compaixão, para os esquecidos, os banidos, os vadios, os feios, os patéticos, os sonhadores, os delirantes, os utopistas, os idealistas.
Tudo junto e misturado, mas que de certa maneira estavam configurados para uma ontologia de esquecimentos, que assim pudessem trazerem, algum tipo de juramento sem nenhum lamento, mas que aos poucos eram revestidos de excrementos de discórdias para assim salientarem uma paixão pelo prazer de alcançar o que possa de sentenciar como sendo proibido.
Esse proibido é um fato, tentar convencer dos “ditos loucos sãos” que a humanidade pousa de sanidade, mas no fundo se envergonha dentro de suas mentalidades doentes, almejando a procura de vantajosos procedimentos de esfacelarem a bondade, que em determinados momentos, está subvertida por um nefasto sentimento de moralismo mecânico.
Moralismo, permutado em ativismos, que suplantam um amor universal, que se perde pelas alcunhas de um tempo, que se conflua em personagens que na maioria das vezes canta lúdicos sentimentos de uma compaixão, que está somente atrevida aos desejos egoístas mais profundos.
Os Sanatórios silenciosos, seriam oratórios falaciosos?
No final, tudo se torna ocioso...
E mentiroso...
Entre confissões burocráticas recheadas, na admissão de uma sujeição que se possa de fato se colocar no lugar do próximo, seus funcionários pensam mais em se livrarem de suas “meta-obrigações”, que assim possam perpassarem sentimentos de uma ética de respeito pelas pessoas enjauladas e esquecidas, onde sua dignidade é testada cada momento.
Os Sanatórios ...
Oráculos diabólicos, para testarem, uma humanidade que veste a armadura dos bons hábitos, mas que no fundo dos seus sentimentos mais profundos, fantasiam, uma demência sucinta na docilidade aceitar o que seja taxado como diferente.
No cotidiano de sua hipocrisia, em realizar discursos ao ar livre, que venham contemplar a aceitação de todos os seus membros, está um vaticínio implacável, em não querer incomodar as pessoas “normais”, mas que deixa um marasmo egoísta de boas maneiras, pelas quais vão se abrindo passagens filosóficas em que “tudo deve ser aceito”, gerando um grande pleito de hipocrisias, que assim são sublimes, em não externalizar, seus sentimentos mais egoístas, em nome de uma paz social, que apenas vem reproduzir momentos de uma falsa empatia.
Os Medos, dentro dos Sanatórios, sejam eles em qualquer região que estejam localizados, esgarçam mágoas , em balbuciam que “ainda não estamos acostumados com o diferente”.
Um diferente, que precisa a cada instante ser reinventado, para uma compensação de sensatez, onde os doidos varridos são sacudidos por uma culpabilidade, em não terem sidos banhados com uma normalidade banal, que tem seu espiritual esquecido, em nome de algum bem material qualquer.
A loucura com o terror, geram cárceres mentais aos quais a sua libertação para realidade somente se torna um caminho, para amenizarem suas dores mais profundas dentro de sua alma, que venham assim realizarem metafísicas para um comprometimento, entre o que seja estar na sanidade, como na infantilidade egoísta de construírem amarras de benfeitorias disfarçadas, em desgraças, que são comiseradas com falsas promessas de bem comum.
Sanatórios são recheados de falatórios de igualdades baratas, que subvertem a humanidade a procurar uma sanidade, que em meio ao seu caos comportamental, produz esquizofrenias coléricas, disseminadas por entre um passado de proteção a civilidade humanística, estando submetida há um conluio, com os mais dantescos arquétipos de exclusões entre culturas de polivalentes naipes.
Não existe um local específico para o terror...
Toda a sua flâmula, transcorre para uma alienação constante, onde os subterrâneos de interpretações da mente, ficam atrelados para um falsificacionismo, quanto à importância a se propiciar, que para cada tempo e acontecimento histórico, se possa organizar um esclarecimento para diferentes figuras de lamentos do ser – humano.
O Sanatório mais cruel...
A escravidão de si mesmo...
As pessoas vivem, querendo ser, o que não direito de ser, mas que julgam problematizar o que deveria ser simples...
Bem, a mente humana não é simples, mas está prontificada para alimentar os mais polivalentes e pragmáticos tipos de ilusões.
Ser iludido não é nenhum pecado, porém produz muitos desagrados, em meio a preconceitos de que ser classificado “normal” é fundamental para alimentar diretrizes de inteligências pulsantes na elaboração de andrajos em alçar voos rumo ao desconhecido, que se vai fabricando diferentes maneiras de se interpretar a loucura.
Loucura com maluquice...
Amor com desafeto...
Desamor com rancor...
Normalidade com falsidade...
Crueldade com melancolia...
Afinal de contas, o que é ser normal de fato? Enquanto tudo parece anormal?
A vida é uma experiência continua de adversidades, que consolidam verdades cambaleantes.
Talvez o maior sanatório, seja não saber o que fazer com a liberdade, que alguns pensam estarem usufruindo.
Entre drogas e prazeres, uma boa parte das pessoas se perdem, em enxergarem unicamente o próprio umbigo, bebericando o cálice ininterrupto de caluniar atos de bondade pura e plena, que são diagramados para realizarem um peso de patéticos eufemismos de aceitação de um ser humano pelo outro...
Mas qual seria a natureza de toda a racionalidade?
Estaria ela camuflada, em uma loucura sem fim, em viver unicamente para se portar como sendo normal, perante múltiplas aberrações?
Os sanatórios escondem sentimentos que são alçados em determinados momentos a escancarar solidões, que são romantizadas como algo sendo normalizador?
E assim, vão usufruindo, de suas loucuras particulares, como alimentos para psicoses que são efervescentes e dementes, em monstruosidades congênitas feitas sobre encomenda, para uma intromissão mental precária, em se faça uma esperança de paz, coletiva fraca, mas muito eloquente, em realizar novas conjecturas de psiques dormentes.
Entre os dentes sujos, se pronunciam ruídos de socorro, aos quais a humanidade finge que está tudo bem, cometendo suicídios de carinhos, aumentando uma exclusão, que não abrem brechas para nenhum ato paliativo.
Os cafés de seus funcionários esfriam.
A agonia dos pacientes só aumenta.
O esquecimento e o abandono são suas companhias diárias.
Já não há, se quer, raiva ou algum ressentimento.
Tudo já foi institucionalizado.
Sacralizado, amordaçado, medicado, encarcerado, humilhado, trancafiado, amedrontado, amaldiçoado, execrado, exilado, massificado, atomizado, dizimado, assassinado.
Existem sanatórios, para todos os tipos de emoções e desrazões.
Expressões faciais amarelada s, corpos fracos, almas em cacos.
Sanatórios, Sanatorium,
“Fundamentum eius legalisticum, contrariis cum re sua própria”...
NOTA DO AUTOR: Dedico esse conto aos Professores Doutores Sidney Jorge Barbosa e Lúcia Maria de Assunção Barbosa da Universidade Nacional de Brasília, pela sua hospitalidade e afeto, não tenho palavras para descrever minha gratidão e admiração.
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