Ademir Pascale |
Primeiramente, gostaria de pedir para que você fizesse uma breve apresentação aos nossos leitores, falando sobre seu envolvimento com a literatura fantástica:
Ademir Pascale: Agradeço pelo interesse no meu trabalho. Bom, antes de adentrar no universo da literatura fantástica, fui pesquisador, colunista/colaborador da Revista UFO, a maior revista de ufologia da América Latina, além do site “Sobrenatural.Org”, que abordava matérias sobre assuntos paranormais. Escrevi inúmeros artigos, entrevistei várias pessoas e isso ajudou muito no meu conteúdo na criação de histórias, títulos para coletâneas, etc. Depois fiz Letras, conheci obras clássicas, autores como Edgar Allan Poe, Mary Shelley, Bram Stoker, Irmãs Bronte, entre outros. Minha primeira publicação num livro foi na obra Caminhos do Medo, da editora Andross, isso em 2008. E em dois anos (2008-2010) publiquei em várias outras antologias. Em 2009 criei minha primeira coletânea, intitulada “Draculea – O Livro Secreto dos Vampiros”. Esse livro teve grande procura pelas livrarias e mídia. Teve muita gente no lançamento. Foi um sucesso. Em seguida veio o “Metamorfose”, que seguiu o sucesso do Draculea. Publiquei várias antologias pela editora All Print, publiquei romances por diversas editoras e a antologia “Possessão Alienígena”, pela Editora Devir. No total, participei em mais de 70 livros, como contista, prefaciador e romancista. Em 2015 criei a Revista Conexão Literatura (www.revistaconexaoliteratura.com.br) e hoje temos mais de 150 mil leitores.
Parece haver consenso entre uma parcela significativa de leitores, autores e mídia especializada acerca de um ótimo – ainda que curto – ciclo dentro da cena da literatura fantástica nacional que durou de 2009 até aproximadamente 2014, onde houve uma profusão de antologias, séries, coletâneas, sites e blogs especializados, eventos e publicações de livros solo de muitos autores nacionais que conseguiram espaço para expor seus trabalhos em editoras de pequeno, médio e até grande porte. Muitos consideram que você foi um dos responsáveis pelo boom dessa época, tendo organizado várias antologias que hoje já são consideradas clássicas no gênero, como Draculea: O Livro Secreto dos Vampiros (2009), Metamorfose: A Fúria dos Lobisomens (2009), Poe 200 Anos (2010) e Draculea: O Retorno dos Vampiros – vol. 2 (2010), que acabaram por revelar autores que a partir de então construíram carreiras sólidas não apenas escrevendo, mas também atuando como editores e organizadores, sendo que podemos citar Adriano Siqueira, M. D. Amado e Duda Falcão, entre vários outros. Eu mesmo, depois de participar de duas das suas antologias, publiquei livros como Na Próxima Lua Cheia (2010) e Jarbas (2011), que esgotaram suas tiragens, o que não deixa de se configurar em sucesso para editoras de pequeno e médio porte. Hoje, passados mais de dez anos, como você avalia aquele momento e o legado deixado por aquele ciclo?
Ademir Pascale: Aprendi muito naquela época. Não fui o primeiro a fazer esse trabalho, mas um dos primeiros. Sempre fiz tudo com muito carinho e amor, por isso acredito que bons livros foram lançados. Hoje, muitos editores fazem coletâneas e dou muito valor para elas. O autor aprende sendo publicado, mostra o seu trabalho e adquire conhecimento e novos leitores.
Como mencionamos anteriormente, apesar de intenso, aquele ciclo não teve longa duração. Se pesquisarmos na internet, veremos que a quase totalidade dos sites e blogs sobre literatura fantástica surgidos naqueles períodos estão abandonados há muito tempo, ou já não existem mais. Os eventos também arrefeceram, mesmo antes da pandemia. A grande maioria dos autores que participaram das suas antologias deixaram a produção literária de lado – muitos sem nunca ter conseguido publicar um livro solo, apensar da inegável qualidade de seus trabalhos – e as oportunidades junto às editoras parecem significativamente menores hoje em dia do que na década passada. Na sua opinião, qual seria o motivo – ou os motivos – para que aquela cena não tenha conseguido se perpetuar?
Ademir Pascale: os anos passam e tudo vai mudando com o tempo. Hoje existem centenas, senão milhares de blogs literários, sendo que na maioria das vezes são jovens que administram seus conteúdos, além de alguns youtubers que lidam apenas com literatura. Acredito que além de tudo, é preciso gostar do que faz e seguir a modernidade, não desistir nunca.
Atualmente, parece que muitas editoras, e até mesmo autores, de forma independente, têm se voltado para a publicações de e-books para serem comercializados e distribuídos via internet e lidos em dispositivos digitais. Você acredita que isso seria uma alternativa para as dificuldades de se conseguir publicar em meio impresso e atingir o público leitor dessa forma, ou seria uma nova tendência do mercado, com cada vez mais leitores optando por esse tipo de leitura?
Ademir Pascale: as duas coisas: uma alternativa e uma nova tendência do mercado. Os e-books são muito mais rápidos que os impressos, mais econômicos e fáceis de distribuir. Eu mesmo criei o selo “Conexão Literatura” e publiquei cerca de 15 e-books em menos de 1 ano. Todos eles estão disponíveis gratuitamente para download e a maioria poderá ser baixado no site: www.divulgalivros.org
Nos dias atuais, se tornou bastante comum vermos notícias de grandes livrarias anunciando recuperação judicial, pequenas fechando as portas e editoras encerrando atividades ou reduzindo severamente seu ritmo de publicações. Alguns dizem que isso seria reflexo da crise econômica brasileira, que já se arrasta há vários anos, outros acham que o público leitor vem diminuindo. O que você pensa a respeito?
Ademir Pascale: não acho que o público leitor está diminuindo, muito pelo contrário. Existem muito mais leitores do que naquela época em que fazíamos antologias impressas, em 2009 ou 2010. O que acontece é que nossas livrarias não tem apoio do governo, como acontece em Portugal e outros países da Europa. Os livros são caros para o bolso do brasileiro. Não incentivam à leitura e não entra na cabeça desse pessoal que os livros e a educação são primordiais para um país crescer.
Como você avalia, de maneira geral, a atual cena da literatura fantástica nacional, em termos de volume de publicações e qualidade do material publicado?
Ademir Pascale: existem editoras que estão a todo vapor, como a DarkSide Books, com livros de qualidade. Eu, como editor e escritor, faço o possível para difundir cada vez mais a literatura fantástica, seja nas edições mensais da Revista Conexão Literatura, no site da revista, redes sociais e através dos e-books do selo “Conexão Literatura”.
Acredita que ainda há espaço para blogs como o nosso Relatos Noturnos?
Ademir Pascale: Claro. Como disse antes, se você gosta do que faz e faz isso com amor, você irá longe e certamente agregará ainda mais.
Para concluir, gostaria de pedir para você nos falar um pouco sobre seus projetos atuais e como os leitores do blog podem ter contato com o seu trabalho: