12 de jul. de 2021

ENTREVISTA COM ANDREI BRESSAN

 

Andrei Bressan
 
 

Primeiramente, gostaria de pedir para que você fizesse uma breve apresentação aos nossos leitores, falando sobre seu envolvimento com as histórias em quadrinhos:

Sou de Piracicaba, interior de São Paulo. Como todos os colegas, comecei a ler quando criança... levou anos pra acabar sendo uma realização profissional. Durante a maior parte do tempo era só um sonho meu. Não achava que seria possível, mesmo sabendo de vários brasileiros trabalhando nos quadrinhos. A coisa só aconteceu de verdade a partir de 2001... fazia Publicidade e Propaganda. Tive um sério acidente de carro... bati a cabeça, fiquei com amnésia... foi pesado, achei que não me recuperaria. Após a recuperação decidi mudar o rumo das coisas. Não dava pra ignorar mais aquele impulso, não dava mais pra armazenar sonhos. Tinha que virar realidade. E acabei indo pra Unicamp estudar arte clássica, mas foi só com o pessoal da Quanta que a coisa realmente aconteceu. Foi ali que dei o polimento gráfico necessário para os quadrinhos.

Você é um daqueles casos de quadrinistas brasileiros que fazem muito mais sucesso no exterior do que no Brasil. Como é conviver com essa realidade?

Acho que faz parte. O Birthright ainda não saiu por aqui e some-se o fato de não ter um estilo com o apelo mais tradicional dos Comics de heróis. Veja bem, não se trata aqui de criticar o gênero, mas sim de reconhecer onde meu trabalho funciona melhor.

Como surgiu a oportunidade de trabalhar para grandes editoras dos EUA, como DC e Image Comics?

Surgiu de uma sample do Gambit que fiz em 2009... O Rafael Brizola escreveu uma história “resposta” a uma HQ que a Marvel lançou para promover o Gambit no filme do Wolverine. Na época dividia um estúdio com o colorista Marcelo Maiolo que topou fazer as cores nessa sequência. Acabou dando certo e isso chamou a atenção do Joe Prado, que desde aquele momento, veio a ser nosso agente.

Em termos de reconhecimento e compensação financeira, como se poderia comparar o mercado de HQs brasileiro com o dos EUA?

Não tenho experiência com o nosso mercado nacional de quadrinhos... Não conheço essa realidade sob a vivência de um autor de HQs, por exemplo. Trabalhar pra fora toma muito tempo e dedicação. O máximo que fiz foram ilustrações didáticas e material publicitário pro mercado nacional editorial. Nesse sentido não dá pra comparar muito.

Durante sua carreira internacional, você desenhou HQs de personagens clássicos, de enorme sucesso e prestígio, como Batman, Lanterna Verde e Esquadrão Suicida. Fale um pouco sobre essa experiência.

Foi tudo muito intenso e bastante complexo. Começa pela realidade brutal do tempo. Você tem que entregar no prazo! Você queima teu amor na primeira semana se vacilar... Leva tempo pra entender o esforço necessário pra fechar uma edição. Crescemos do outro lado da mesa, como leitores. Naturalmente, isso gera bastante idealização do trabalho, é normal. Compomos uma realidade que cabe no tamanho exato da fantasia. É lindo, desconhecer a realidade faz tudo parecer incrível. E não resta dúvida de que o trabalho acaba se alimentando dessa energia. Veja bem... ao “chegar lá”, ciente da conquista do tão desejado sonho, é de imediato a aniquilação do mesmo. Você embarca numa outra jornada, que é a realidade de trabalho. Passa muito brevemente de realização de um sonho para aprender a correr uma maratona. São km de páginas! É obrigatório se conhecer pra dar conta desse ritmo. Imperativo de verdade. Saber o que é capaz de fazer numa janela de tempo é o que determina nossa caminhada. O amor com o qual embarcamos passa a dar espaço a nossa maturidade... passamos a entender o que é, na realidade, ser um desenhista sob o aspecto profissional. Ainda se trata de uma forma de amor, mas jamais nutrida por fantasia ou idealização. Ou você passa a amar as horas que oferta nesse altar ou passa a idealizar um novo sonho.

Um dos meus personagens favoritos da DC é o Monstro do Pântano. Você o desenhou em um momento em que os roteiros estavam a cargo de Charles Soule, em uma fase que, na opinião de muitos fã – inclusive na minha – é uma das melhores desde Alan Moore. O que você pode compartilhar conosco sobre esse trabalho?

Na época foi uma surpresa. Das boas! Não acompanhava o Soule no Monstro do Pântano. Estava trabalhando nos Lanternas Verdes e o tempo livre acaba sendo pra fazer outras coisas... e foi muito satisfatório descobrir o talento dele na medida em que embarcava no texto. Jurava que faríamos mais coisas, corri atrás dos números anteriores, mas no final da edição meu editor atual, o Sean me convidou pro Birthright. Encontrei o Soule anos depois, conversamos um pouco durante uma convenção, mas acaba sendo tanta coisa e projetos diferentes que não fizemos mais nada juntos.

Nos conhecemos em uma comunidade sobre lobisomens na extinta rede social Orkut, quando você compartilhou algumas belíssimas ilustrações envolvendo licantropos. Qual o seu sentimento sobre essas criaturas mitológicas?

Meu sentimento? Haha, pura devoção. Foi meu primeiro amigo, o mais leal. Eu era criança e entendia que o Lobisomem me visitava na TV. A periodicidade do seriado que passava “toda sexta” (Nota do editor: o seriado em questão era “O Lobisomem ataca de novo”) era entendida como um pacto de amizade. Minha adoração permitiu trazer um Licantropo(s) para as páginas do Birthright na edição 42. Foi tão apreciado que acabou se tornando um personagem da série.

Você desenhou as capas dos meus livros de lobisomens, e também fez as ilustrações internas do Na Próxima Lua Cheia. O que esses trabalhos representaram para a sua trajetória?

Foi minha primeira oportunidade de exercitar essa antiga veneração pelas criaturas. Foi também um grande laboratório de nanquim. Me envolvi muito nas ilustrações. Queria que cada uma tivesse uma força e autonomia, mesmo quando os monstros não estavam nelas.

Para concluir, gostaria de pedir para você nos falar um pouco sobre seus projetos atuais e como os leitores do blog podem ter contato com o seu trabalho:  

Acabei o Birthright faz pouco tempo, estou trabalhando em coisas que ainda não posso divulgar, mas pra quem estiver interessado em acompanhar meu trabalho, estou no Instagram como @andreibressan e no Facebook também! Valeu!!
 

                       


10 de jul. de 2021

APOIO CULTURAL

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5 de jul. de 2021

ELE CHEGA COM A NOITE

 

 Por André Bozzetto Junior

 

            A maioria das casas existentes naquele bairro eram consideravelmente antigas. Em especial, aquela para a qual Maria tinha acabado de se mudar havia sido construída em meados da década de 1970, mas se encontrava em excelente estado de conservação. Além disso, era grande, com três quartos, duas salas, uma ampla cozinha e um belo quintal, onde haviam várias árvores frutíferas. E o mais surpreendente: o aluguel custava uma ninharia. Apenas um terço a mais do que ela costumava pagar por um apartamento minúsculo e desconfortável que ficava em um prédio decadente de um bairro no extremo leste da cidade. Agora ela e a filha adolescente poderiam viver de forma bem mais tranqüila e confortável. E nos finais de semana, quando o marido caminhoneiro voltasse de suas viagens habituais, eles poderiam até mesmo fazer churrasco no quintal.

            – Não entendo como podem existir tantas casas vazias nessa rua. – disse Maria – Elas são ótimas e o aluguel é bastante em conta.

            – O problema é que elas são antigas. – respondeu Paulo, o agente imobiliário – E a senhora sabe como são as pessoas hoje em dia: querem tudo novo, tudo moderno. Gostam tanto das frescuras da moda que desvalorizam as coisas boas do passado, como as casas dessa rua.

            – Pois para mim elas são ótimas! – retrucou Maria, com um sorriso satisfeito nos lábios.

            – Eu também adorei! – complementou Magda, a filha.

            – Pois então aproveitem! – disse Paulo, apertando a mão de Maria – E se precisarem de qualquer coisa, é só ligar para a imobiliária. Aliás, eu moro a três quarteirões daqui. Faço questão de vir sempre que for preciso.

            Em seguida, o agente imobiliário se despediu e foi saindo, mas não sem antes dar uma boa analisada em Magda, observando-a dos pés a cabeça. Sua atitude foi um tanto indiscreta e a garota, percebendo a malícia no olhar do homem, enrubesceu. Apenas Maria não percebeu nada, de tão maravilhada que estava observando cada detalhe da casa. “Espere até o final de semana, quando o seu pai chegar!”, dizia ela. “Ele vai adorar essa casa!”.

            Por volta das 23 horas, Magda já estava na cama, pois na manhã seguinte teria que ir para a escola. Embora tivesse que levantar ainda mais cedo do que a filha para ir trabalhar, Maria permanecia de pé, curtindo a primeira noite na nova casa. Ela havia acabado de colocar um bule com água para aquecer no fogão e estava procurando a camomila para o seu chá, quando um grito de terror ecoou no interior da residência. Maria reconheceu de imediato a voz da filha, e correu estabanadamente até o quarto dela. Quando abriu a porta, teve a visão mais terrificante de sua vida.

            Magda se encontrava sentada na cama, gritando e chorando desesperadamente, enquanto olhava na direção da janela, através da qual uma criatura enorme e horrenda tentava entrar. O monstro já havia removido a veneziana de madeira, quebrado um vidro da parte interna da janela e, com sua mão peluda e robusta, onde se destacavam as garras afiadas, ele tentava remover o trinco que o mantinha do lado de fora. Maria logo percebeu que seria apenas uma questão de tempo até a criatura conseguir entrar, pois mesmo que ela não conseguisse abrir o trinco, não teria maiores dificuldades para despedaçar a janela com quatro ou cinco golpes.

            Apavorada, a mulher puxou a filha pela mão e correu de volta para a cozinha. Seu primeiro impulso foi de sair gritando por socorro na rua, mas logo ela se deu conta de que não havia vizinhos próximos e que certamente o monstro as alcançaria antes que pudessem avançar algumas dezenas de metros. Pensou em pegar uma faca para tentar algum tipo de defesa desesperada, mas então seus olhos encontraram o bule cheio de água fervente sobre o fogão. Ela estava disposta a qualquer coisa para salvar sua vida e principalmente a da filha, de modo que não hesitou: pegou o bule e se dirigiu de volta ao quarto de Magda.

            Quando atravessou a porta, Maria viu que o monstro já tinha conseguido abrir também a parte interna da janela, de forma que já estava com a cabeça, os braços e metade do corpo para dentro do quarto. Ele olhou para a mulher com seus enormes olhos vermelhos e reluzentes e uma macabra excitação pareceu transparecer em sua face horrenda. Nesse momento, Maria se aproximou corajosamente e, com um único movimento, arremessou toda a água fervente de encontro à face da criatura. Urrando de dor e ódio, o monstro retrocedeu desengonçadamente e saiu correndo em busca do abrigo acolhedor das sombras da noite. Sob a luz da lua cheia, Maria pode ver que, embora as características corporais da criatura lembrassem algo similar a um lobo de cerca de dois metros de altura, ela corria apoiada apenas nas pernas traseiras, com movimentos muito semelhantes aos de um ser humano.

            Na manhã seguinte, Maria não foi trabalhar e Magda não foi para a escola. Só saíram de dentro de casa para ir até o telefone público mais próximo. Elas sabiam que seria inútil relatar o ocorrido para a polícia ou para qualquer outra pessoa. Certamente, ninguém acreditaria em histórias de lobisomens. Assim, ligaram apenas para a imobiliária, com a intenção de pedir para Paulo devolver o dinheiro do aluguel que havia sido pago adiantado, pois pretendiam ir embora o quanto antes pudessem. Contudo, a secretária da imobiliária disse que Paulo não havia ido trabalhar, apenas ligara dizendo que iria ao médico. Porém, a funcionária se prontificou a entrar em contato com o agente imobiliário e pedir para que ele fosse até a casa de Maria tão logo possível. Sem outra alternativa, só lhes restou concordar.

            Maria e Magda passaram o dia apreensivas, intercalando olhares para o relógio e para a rua, esperando pela chegada de Paulo e pela subsequente oportunidade de ir embora daquela casa e daquele bairro, que já não lhes despertavam nenhum outro sentimento além do medo. Quando começou a entardecer, as duas se deram conta de que talvez o agente imobiliário não viesse mais e, consequentemente, elas teriam de passar mais uma noite na casa, pois não tinham outro lugar para ir. Rapidamente, começaram então a improvisar formas de reforçar as portas e janelas, para o caso de o monstro decidir voltar.

            Já havia escurecido completamente quando alguém bateu na porta. Apreensiva, Maria perguntou quem era antes mesmo de se aproximar da maçaneta.

            – Sou eu, Paulo. – respondeu a voz vinda do lado de fora.

            Tomada pela esperança, Maria destrancou rapidamente a porta e abriu-a para receber o agente imobiliário. Porém, a visão que teve deixou-a tão espantada que, instintivamente tentou fechá-la novamente. Mas não foi possível. Paulo escorou a porta com uma das mãos e com a outra deu um safanão em Maria, fazendo-a cambalear para dentro. Em seguida, ele entrou e girou a chave detrás de si.

            Paulo estava com o rosto quase que completamente coberto por ataduras, permanecendo de fora apenas os olhos e a boca. Pelas frestas entre as faixas, Maria e Magda puderam ver que a pele do rosto do homem estava desfigurada por queimaduras.

            – Sua vadia desgraçada! – gritou Paulo, com um tom de voz cavernoso e amedrontador – Veja o que você fez com o meu rosto!

            O homem então começou a remover as ataduras de sua cabeça, e a revelação do que havia por detrás delas fez com que Maria e Magda ficassem paralisadas de horror e repulsa. Além da pele queimada e purulenta, a face de Paulo apresentação outras anomalias, como o nariz retorcido para frente, os ossos das maçãs do rosto dilatados e espessos tufos de pelos negros que emergiam de seus poros disformes. Ele estava se transformando em um monstro.

            – Eu queria apenas a sua filha! – vociferou aquele horrendo ser que já não se parecia mais com Paulo – Mas agora terei prazer em comer você também!

            Na sequência, as roupas que o homem vestia se rasgaram e desapareceram daquele corpo junto com os últimos vestígios de humanidade. Coberto por uma pelagem negra e opaca, a criatura se aproximou das duas apavoradas mulheres escancarando sua enorme bocarra repleta de presas longas e afiadas e emitindo um urro ensurdecedor. Encurraladas, as duas se agacharam junto à parede, cobrindo os olhos com as mãos e esperando pelo pior. Ironicamente, o último pensamento lúcido que passou pela mente de Maria foi a compreensão de que não eram as casas antigas que afastavam os moradores daquela rua, mas sim aquela coisa que estava diante dela, igualmente antiga, mas infinitamente pior.

            Durante aquela noite, gritos de dor e agonia ecoaram pela rua, acompanhados de urros monstruosos que denotavam ódio e satisfação. Porém, não havia vizinhos próximos para escutá-los e os que moravam mais distantes não ouviram nada. Ou, se ouviram, por medo fingiram não ouvir.

3 de jul. de 2021

2 de jul. de 2021

EUGÊNIA

 

 

Por Maria Ferreira Dutra

 

            Campos dos Goytacazes, município do Rio de Janeiro. 

 

            Elizabeth Petkovic, uma menina de apenas 14 anos, deixou a população do vilarejo onde morava aterrorizada. Segundo relatos, depois de sua morte, as pessoas a ouviam chamar pelos seus nomes e alguns inclusive reportaram aparições.

            Todos começaram a acreditar que Beth, como também era conhecida, teria sido uma bruxa.

            Sete dias após a sua morte, seu corpo foi exumado, e para a surpresa de todos os presentes, havia uma estaca cravada em seu estômago. As pessoas ficaram sem entender porque esse era um artifício usado para matar vampiros e ali naquela cidade ninguém nunca havia ouvido falar em ataques de vampiros. E pelo que se sabe, Beth havia morrido de raiva. Seria Beth uma vampira? O povo começou a se questionar.

            A dúvida passou a ser uma certeza quando a defunta abriu os olhos, sentou-se e soltou uma gargalhada, apavorando a todos. Vagarosamente Beth saiu do túmulo e pôs todos para correr dizendo que estava com sede de sangue. 

            A partir desse dia suas aparições se tornaram mais frequentes e violentas, além de se alimentar do sangue de suas vítimas, Beth as enterrava vivas, de cabeça para baixo, com o corpo de fora. Em seguida, cravava suas enormes unhas em seus peitos e os abria arrancando seus corações e comendo-os.

            Para por um fim nas ações da vampira, os moradores do vilarejo planejaram uma emboscada. Colocaram um boneco sentado em frente ao cemitério como isca e o lambuzaram com sangue humano.

            Ao anoitecer, Beth desperta do seu sono e sente o cheiro forte de sangue. Ela vai em direção ao seu alimento e se aproximou de sua próxima vítima. Beth cheirou, cheirou, parecia desconfiada, olhava de um lado para o outro como se sentisse observada. Mas a sua fome era grande e quando se sentiu segura, tirou o cachecol do pescoço da sua presa e estava prestes a atacar quando foi surpreendida pelos moradores que estavam a espreita aguardando um momento de distração da vampira.

            Sem piedade e chance de reação, os moradores armados com estacas afiadas perfuraram todo o corpo da vampira, para que não houvesse chance de sobrevivência. Por fim, um rapaz, que havia perdido o pai assassinado pela vampira, tomado pelo ódio pegou um facão e a decapitou. O povo então a esquartejou e queimaram as partes do seu corpo em quatro fogueiras, pois tinham medo de colocá-las numa única fogueira e seu corpo se reconstituir novamente.

            Enquanto as pessoas observavam partes do corpo da vampira ardendo nas chamas, em uma das fogueiras, a cabeça da vampira de repente saiu rolando em direção às pessoas, parou e abriu os olhos. Em seguida, soltou uma risada medonha, de congelar a espinha. Todos se afastaram com medo, mas um senhorzinho, de uns setenta anos, pegou o primeiro pedaço de pau que encontrou pela frente e o cravou nos olhos da vampira. Após a cabeça estar devidamente empalada, a colocou de volta ao fogo.

            Ninguém quis arredar o pé, todos ficaram esperando a fogueira se apagar, queriam ter certeza de que era o fim definitivo da vampira Beth. E quando a última labareda se apagou, gritos de vitória foram ouvidos por todos os lados. 

            Na manhã seguinte, quando o serviçal do cemitério foi limpar o que havia sobrado da fogueira, para sua surpresa, não havia vestígio de nada, nenhum sinal de cinza, apenas uma frase escrita no chão: Eugênia, eu habito em você.

            A partir desse dia, todas as Eugênias passaram a ser prosseguidas e quando capturadas eram terrivelmente assassinadas. Mas ninguém nunca soube qual delas a vampira havia possuído, e na verdade, a Eugênia vampira ainda estava para nascer.

            Durante o ataque à vampira na porta do cemitério, havia uma mulher grávida entre a multidão, chamada Soraia. Soraia também estava movida pelo medo e pela raiva e assim como os demais moradores apunhalou a vampira com toda fúria. Só não esperava o que viria a acontecer, o sangue de Beth esguichou em seus olhos. Durante muito tempo ela ficou preocupada em se transformar em vampira também, o que a levou a se mudar para uma outra cidade, bem distante.

            Soraia teve a sua filha na nova cidade, e tudo transcorreu bem e a transformação que ela temia nunca ocorreu. Mais tarde, sua filha se casou e veio a engravidar. Em homenagem a sua tia, que fora morta pelas autoridades da cidade de Campos dos Goytacazes, por motivo que sua mãe nunca lhe contou, colocou o mesmo nome em sua filha: Eugênia.