11 de ago. de 2021

OS MESTRES DO TERROR ESTÃO DE VOLTA

 

Por Sidemar de Castro
 

Revistas de sucesso nos anos 80/90, Calafrio e Mestres do Terror voltaram a ser publicadas

 

            O gênero horror sempre foi um dos mais bem sucedidos nos quadrinhos nacionais. Em boa parte, isso se devia à perseguição e censura a esse tipo de histórias, ocorrida nos Estados Unidos a partir dos anos 50. A base dessas acusações eram supostos estudos, mais tarde refutados, publicados no livro do psicólogo de origem alemã, dr. Fredric Werthan, chamado “A Sedução dos Inocentes”, que acusava os comics de culpados pela delinquência juvenil, um fenômeno do pós-guerra.

            Seja como for, a censura neste tipo de material produzido nos EUA abriu um nicho de mercado para editoras e artistas nacionais, a partir dos anos 60. Revistas como Terror Negro, Lobisomem, Histórias Macabras, Naiara, a Filha de Drácula, entre outras, passaram a revelar roteiristas e desenhistas brasileiros ou estrangeiros trabalhando no país, uma vez que faltava o material americano. Um grupo de artistas se destacou, produzindo para várias editoras ao longo de décadas: o Estúdio D-Arte, capitaneado pelo argentino radicado no Brasil, Rodolfo Zalla.

            No começo dos anos 80, Zalla resolveu fundar sua própria editora e lançou uma revista de quadrinhos que fez época, com tiragens de cerca de 20 mil exemplares mensais: Calafrio. A ela, seguiu-se a coirmã Mestres do Terror, além de revistas de faroeste e infantis, estas sem o mesmo sucesso.

            Calafrio era uma antologia de contos e adaptações de histórias de terror gótico, enquanto Mestres do Terror investia nas séries igualmente clássicas como Drácula, A Múmia, Frankenstein, Lobisomem ou mais recentes como Mirza, a Mulher-Vampiro e Zora, a Mulher-Lobisomem. Ao lado de desenhistas e roteiristas consagrados como o próprio Zalla, Rubens Cordeiro, Flávio Colin, R. F. Lucchetti e Julio Shimamoto, republicações de Jayme Cortez, Gedeone e Lyrio Aragão, foi revelada uma nova geração com Rodval Matias, Mozart Couto, Júlio Emílio Braz e Bené Nascimento, dentre outros. 

         Calafrio e Mestres do Terror renascem

            Cada uma das revistas superou os 50 números, até a virada do século, quando a crise econômica e a hiperinflação fizeram com que as revistas fossem canceladas. Em 2002 a Opera Graphica lançaou uma edição comemorativa dos 20 anos de Calafrio, até que, em 2011, o incansável Zalla resolveu trazer de volta a revista, desta vez em tiragens menores e produção gráfica mais esmerada, com distribuição apenas em lojas especializadas em quadrinhos dos grandes centros. O octogenário artista, entretanto, sucumbiu a um câncer em 2016. Mas Calafrio não parou. Um fã e colecionador de Curitiba, Daniel Saks, tinha celebrado no ano anterior um acordo com o desenhista e editor, passando a publicar ambas as revistas a partir da antiga numeração – Calafrio a partir da edição 53 (ignorando a numeração da Edição de Colecionador) e Mestres do Terror a partir da 63. 


        Mestres do Terror 75

            Lançadas entre as cidades de Curitiba, no Paraná e Indaiatuba, no Litoral de São Paulo, as revistas Calafrio e Mestres do Terror estão a ponto de equiparar a numeração uma da outra (a periodicidade da primeira é maior atualmente, invertendo a situação dos anos 80/90).

            Neste mês de agosto, Mestres do Terror chega à edição 75, número que a Calafrio deverá igualar no começo de 2022.

            Seguindo a escolha editorial determinada pelo patrono das revistas, Rodolfo Zalla, Calafrio continua com uma estrutura de antologia de terror, enquanto a Mestres do Terror segue publicando séries, sejam clássicas ou novas, que substituíram algumas por questões de direito autoral.

            A edição 75 da Mestres do Terror já está disponível nas lojas de quadrinhos dos principais centros, lojas virtuais e pelo Correio através do e-mail: revistacalafrio@gmail.com, com o editor Daniel Saks. A capa de Juliano Kaapora evoca e apresenta "O Cabano", escrito por Gian Danton e ilustrado pelo capista, que iniciam uma nova série focada no folclore nacional, particularmente do Norte brasileiro. "Anya, a Filha de Drácula" está de volta em mais uma aventura apresentada pela dupla Lillo & Laudo; quem também está de volta é a "A Múmia Vive!", em sua segunda aventura, escrita por Sidemar e desenhada por Ivan Lima, Horemheb, a nova versão Múmia, agora mais centrada em história antiga e mitologia, enfrenta um "Trio das Trevas" do sertão nordestino, composto por Bruxa, Papa-figo e Lobisomem. Mantendo o clima egípcio, a seguir temos outro retorno, o da eterna "Constance, Mademoiselle Le Mort", contando sobre sua passagem pelo antigo Egito e seus "Deuses da Morte", com texto e desenhos de Sidemar. E Márcio Garcia retorna com o capítulo 4 de sua adaptação do clássico do expressionismo alemão, "Nosferatu".

            A Matéria Especial assinada por Rodrigo Ramos é sobre "Os 50 anos do Monstro do Pântano"; outra matéria está na "Resenha" de Heidi Borges, que analisa um livro de contos clássicos do Mestre Edgar Alan Poe; temos ainda as sessões habituais Mala Direta, Capa Clássica, Falando em Primeira Pessoa e o Editorial.

         A próxima Calafrio, a 73, deverá ser lançada em outubro, e em dezembro a 74. Estão programadas entre este e o próximo ano algumas Edições Especiais em datas a serem confirmadas.  

2 de ago. de 2021

ELE DEIXOU O PALCO

 

Por Adriano Siqueira

 

            Era mais de meia noite e desta vez, Erick sabia que o seu padrasto não iria perdoá-lo.

            – Dá essa guitarra agora!

            – Mas, pai!

            – Me dá isso ou arrebento sua boca moleque!

            Erick, chorando entregou a sua guitarra e abaixou sua cabeça, olhando para o chão. Seu padrasto o pegou pelo braço e levou até o seu quarto gritando.

            – Eu não falei que não quero mais que você toque? - Olhe para você! Uma vergonha para a família! Essas roupas e esse cabelo. Você me ofende andando assim! Agora chega! É isso que você ama?

            Ele fala rasgando os pôsteres na parede. A mãe de Erick entra no quarto e tenta impedir o padrasto, mas ela é jogada com fúria para o canto do quarto. Erick corre para seus braços e olham para o homem completamente possuído pela loucura.

            – É isso que gosta? Essas músicas?

            Ele joga os CDs pela janela.

            – Acabou! Está me ouvindo!

            Ele bate a guitarra no aparelho de som varias vezes e joga tudo pela janela. Em seguida pega a mulher pelo braço, empurra para fora do quarto. Erick tenta impedir mas é jogado com facilidade para o chão.

            – Saia deste quarto e eu te mato!

            Erick chorou olhando os pôsteres rasgados do seu ídolo e sua guitarra completamente destruída... Até que finalmente adormeceu.

            Depois de pedir muitas desculpas para sua mulher. Ela finalmente o perdoou. Não por ser um bom marido, mas por não ter como cuidar do seu filho sozinha, já que ela não havia trabalhado antes.

            Ele foi até a cozinha pegar uma bebida. Escutou um barulho antes de entrar, mas achou que era um ladrão. Andando com mais cuidado ele, viu um vulto. A luz estava apagada, mas tinha um pouco de claridade que vinha da janela.

            Era um homem vestido com uma roupa e capa branca, de óculos escuros. Iguais aos do seu filho. Começou a relampejar e o reflexo dos raios apareciam nos óculos escuros. O padrasto deu um passo para trás, mas a criatura começou a socá-lo até que caiu completamente ensanguentado.

            De manhã Erick acordou com o grito da sua mãe. Assustado correu em sua direção e teve uma visão que jamais vai esquecer por toda a sua vida.

            Seu pai implorando por perdão... Logo a sua frente... Uma guitarra novinha autografada por Elvis Presley.