Por O Relator da Noite
No
ensaio anterior, abordamos a argumentação de diferentes autores, oriundos de
diversas vertentes ocultistas, acerca do entendimento que nos parece mais
adequado para tratar daquilo que designamos como “demônios”. Recomendo a
leitura daquele texto antes deste, mas, para fins de recapitulação, penso ser
útil retomar a noção de que, nos meus escritos, os demônios não são espíritos
de pessoas mortas, mas sim formas-pensamento emanadas por consciências que
habitaram nosso planeta [ainda que de forma etérica] desde antes do surgimento
dos seres humanos encarnados e que, por isso mesmo, não foram compostas por
mero substrato psíquico análogo ao que abunda na psicosfera terrestre atual,
mas sim por energias primordiais que,
como tal, são eternas e intrínsecas àquilo que chamamos de realidade.
Por
serem anteriores à própria humanidade, essas formas-pensamento encontraram
caminho para interagir com as pessoas de maneira mais ou menos padronizada
através daquilo que costumamos perceber e classificar como emoções. Assim, os demônios se manifestam através das emoções
negativas [destrutivas, autodestrutivas, que vão contra à evolução harmônica da
natureza, em sentido físico e metafísico]. Para Franz Hartmann, esses seres são as próprias emoções [que, no aspecto
benéfico, seriam classificadas como “anjos”]. O mesmo autor frisa que essas
criaturas “não são necessariamente entidades racionais conscientes, mas podem
manifestar-se por meio de organismos conscientes dotados de razão; não são
pessoas, mas personificam-se sempre que encontram expressão em formas
individualizadas”, pois “amor e ódio, inveja e beneplácito, luxúria e ganância
não são pessoas, mas personificam-se em formas humanas ou animais”, de tal
forma que “uma pessoa extremamente maliciosa torna-se a própria encarnação da
malícia”.
Uma
vez que as emoções sempre fizeram parte da constituição humana tal como a
conhecemos, se deduz que a interação entre pessoas e demônios sempre existiu,
ainda que as formas de se interagir e o entendimento acerca delas possam ter
variado enormemente ao longo do tempo e de acordo com o momento cultural de
diferentes sociedades. Demônios, anjos, elementais, deuses bons ou maus, as
designações parecem quase infinitas nos mais variados idiomas, muitas vezes com
termos diferentes para classificar as mesmas entidades, ou usando as mesmas
expressões para elencar seres completamente diferentes, o que se constitui em
um sério problema semântico e ontológico. Contudo, ajustando adequadamente o
foco da pesquisa [o que se constitui em uma verdadeira ordália para qualquer
estudante sério de Ocultismo em início de caminhada] é possível encontrar as
correlações.
Em
Magic: White and Black, Hartmann
exemplifica tais correspondências afirmando que “as potências elementares da
natureza são numerosas e deram nascimento ao panteão dos gregos e das
mitologias orientais”, e continua, afirmando que “o Cristianismo [por exemplo]
moderno não destruiu os deuses olímpicos, mas apenas as formas que os representavam,
pois estas constituíam representações alegóricas de forças eternas, que não
podem ser eliminadas. “As leis da natureza ainda são hoje as mesmas do tempo de
Tibério; o Cristianismo só alterou seus símbolos; passou a chamar coisas velhas
por novos nomes. Os ídolos pagãos mortos ressuscitaram na forma de santos
católicos romanos”. Suponho que Jung diria que estamos falando aqui de “forças
arquetípicas do Inconsciente Coletivo”. Dilemas de linguagem, mais uma vez.
O
fato é que os demônios estão por aí desde sempre, atuando sobre nós para além
de tempos imemoriais. Os motivos para isso só podemos especular. Talvez seja
para nos induzir à ação, corroborar com o aspecto destrutivo [porém,
necessário] da natureza, mas que, seja pela nossa imaturidade consciencial ou
pelo mau uso de nosso livre-arbítrio, acabam se manifestando como forças desequilibradas
ou propriamente maléficas [no sentido de “desarmônicas”].
Ao
mesmo tempo em que instigam nossa faceta emocional, os demônios se
retroalimentam da energia psíquica impregnada pelas emoções correspondentes
emanadas pelas nossas próprias consciências encarnadas. Esse intercâmbio
fluídico que se mantém incessantemente ao longo das eras, tem gerado, no Plano
Astral, verdadeiras dimensões energéticas, habitadas não apenas pelos demônios
mas também pelos espíritos humanos que, por afinidade, são atraídos para lá
depois do desencarne, por se encontrarem no mesmo padrão vibratório. Na Kabbalah
essas dimensões costumam ser designadas como Qliphoth e sobre elas Migene González-Wippler afirma na obra Jesus e a Cabala Mística que “ali
encontram-se cada sentimento negativo do coração humano, cada vício, cada crime
e cada fraqueza personificados num
demônio que se torna o algoz dos que se deixam levar por essas imperfeições”,
sendo, “portanto, a causa e também o efeito de todos os pensamentos e atos
maus”. Em seu livro Qabalah, Qliphoth e
Magia Goética, Thomas Karlsson faz uma inferência semelhante ao afirmar que
as Qliphoth “são ocupadas por aqueles demônios que representam os vícios humanos encarnados, e torturam àqueles que
têm se entregado a tais vícios na vida terrena”.
Conforme
já citado no ensaio anterior, essa visão dos demônios das Qliphoth sendo
personificações de vícios e más tendências corriqueiras aos seres humanos os
colocam em um paralelo análogo aos Demônios dos Sete Pecados Capitais, dos
Vícios personificados e combatidos pela Maçonaria, e uma vasta gama de outras
possíveis correspondências. São as emoções negativas manifestadas pelas pessoas
cotidianamente, através de uma gradação quase infinita de formas e intensidade,
podendo ser desde um reles desconforto subjetivo até um estado de ânimo que
descamba para a autodestruição, ou ainda que induz à crueldade, violência e destruição
contra terceiros.
Então
chegamos ao ponto central deste texto: a perturbadora constatação de que aquilo
que podemos chamar de “realidade consensual atual” está infestada por demônios
em seus mais variados níveis estruturais, como nunca antes esteve na trajetória
da humanidade. Os vícios e as maleficentes deformações da conduta cotidiana que
incrustam a sociedade contemporânea estão aí para comprovar.
Sou
capaz de supor que alguns leitores estejam inicialmente propensos a discordar
dessa afirmação. Talvez estejam pensando em todos os horrores que já marcaram a
trajetória humana até aqui e deduzam que muitos momentos do passado foram mais
do que propícios para que os demônios assolassem a humanidade com toda sorte de
más emoções e que dela extraíssem energia psíquica negativa mais do que
suficiente para se nutrir e perpetuar sua ação. É possível que estejam
lembrando que logo ali atrás, no “breve século XX” tivemos duas guerras mundiais,
Guerra Fria, epidemias, cataclismos de grande envergadura e ditaduras cruéis e
assassinas nos quatro cantos do planeta. E se recuarmos um pouco mais? E as
brutalidades do Imperialismo? E os genocídios da “Era dos Descobrimentos”? E a
Inquisição? E as Cruzadas? E as contendas feudais, as disputas regionais, os
conflitos tribais...? E a mácula [por milênios onipresente nas mais diversas
sociedades] da escravidão? Sem dúvida, em todos esses contextos a realidade há
de ter sido mais do que propícia à infestação demoníaca. Contudo, precisamos
fazer algumas ponderações.
Primeiramente,
devemos observar que, em qualquer um dos momentos históricos citados acima à
guisa de exemplo, a população mundial era bem menor do que a atual. Além disso,
esses foram contextos que provocaram milhares [ou mesmo milhões] de mortes no
seu decorrer. A consequência disso podemos ilustrar de forma análoga a um vírus
causador de uma grande epidemia. Se todos os infectados morrem, o
micro-organismo fica sem hospedeiros para se propagar, ainda que essa
imobilidade possa ser apenas temporária. Semelhantemente, quanto menos
população houver em um determinado lugar, menos veículos para manifestação um
demônio vai ter e, consequentemente, menos energia para se nutrir. Em Magic: White and Black, Franz Hartmann
argumenta que uma força anímica [como, por exemplo, o demônio da Inveja]
perderia sua capacidade de interagir no mundo físico pela ausência de
hospedeiros, caso todas as pessoas do planeta morressem, mas ele não deixaria
de existir. Apenas ficaria latente, restrito ao Plano Astral, até que surgisse
algum outro tipo de ser material que fosse receptivo à sua atuação.
A
conclusão desse raciocínio não é difícil de inferir. Graças a desdobramentos
como o avanço da Medicina, a maior disponibilidade de alimentos, as melhoras
nas condições de saneamento básico e higiene, entre outros fatores [que
infelizmente não abrangem todas as áreas do globo] tivemos um acelerado
crescimento populacional nas últimas décadas [a ponto de preocupar alguns
teóricos] e, neste início de 2023, já somos mais de 8 bilhões de terráqueos. Ou
seja, nunca houve tanta disponibilidade de veículos para a manifestação
demoníaca como agora. Mas, será que as condições são propícias? No meu
entendimento, está muito claro que sim. Com mais indivíduos para contaminar e,
consequentemente, mais energia psíquica deletéria para se nutrir [ainda que,
inicialmente, sua concentração possa estar em áreas restritas], mais o demônio
se fortalece no Plano Astral, maior fica a Qliphah a qual ele pertence e,
assim, se expande seu poder de atuação.
Aqui
no Plano Físico o aspecto dual daquilo que chamamos de “evolução” também faz a
sua parte. Refletindo rapidamente sobre os dispositivos tecnológicos [peguemos
apenas os telefones celulares e a internet, por exemplo], é muito claro até
para crianças [que muitas vezes se tornam vítimas do lado maléfico desse
contexto] que eles tornaram a nossa vida muito mais fácil e eficiente em
inumeráveis âmbitos, que vão desde a atuação profissional ao mero
entretenimento. Contudo, alguém poderia negar que a realidade conectada e esses
dispositivos também facilitou enormemente a difusão de conteúdos que instigam a
cobiça, a vaidade, a luxúria, o consumismo, a inveja, o ódio e tantos outros elementos
que são ao mesmo tempo as armas e a matéria-prima constituinte dos demônios? É
claro que celulares e computadores são apenas ferramentas, e as pessoas
determinaram se eles vão desempenhar funções úteis ou inúteis, seguras ou
perigosas, benéficas ou maléficas. Mas, no atual estado de consciência da
maioria da população, quais opções você acredita que são predominantes? Olhe ao
redor e tire suas conclusões. Tenho certeza que não será difícil.
Vamos
agora tratar de um exemplo fácil e, por isso mesmo, preocupante. O consumo
excessivo de bebidas alcoólicas e seus desdobramentos. Vejamos o que Franz
Hartmann escreveu sobre o assunto já em 1886, ano em que Magic: White and Black foi publicado: “É inquestionável que não
existe no mundo paixão mais diabólica e perniciosa aos interesses verdadeiros
da humanidade e à felicidade individual do que o alcoolismo. [...] Além de
causar uma longa lista de enfermidades nos órgãos internos e conduzir à morte
prematura, são a causa majoritária dos crimes cometidos nos países civilizados.
Para aqueles que encaram o homem como um ser racional, parece incompreensível
que nações ditas civilizadas ajudem a sustentar um mal que abarrota suas
penitenciárias, hospitais, sanatórios, hospícios e sepulturas”. Não pesquisei
dados sobre o consumo de álcool na Europa do final do século XIX [nem sei se
existem], mas seria capaz de apostar que aumentou enormemente de lá até os dias
atuais.
Para
levar o tema adiante, vamos focar no Brasil, por condizer à nossa realidade
imediata e pela maior facilidade de acesso a estatísticas. Por falar em
estatísticas aproveito para esclarecer que, obviamente, vou citar as fontes dos
dados apresentados, mas não irei colar links, tanto por buscar a praticidade
quanto visando não poluir o texto. Quem quiser saber mais à respeito, ou
confirmar a veracidade das informações, se for o caso, pode consultar os Registros Akáshicos, atualmente mais
conhecidos pela sua versão digital sob o nome de “Google”.
No
site da Universidade Federal do Espírito Santo há um texto intitulado “Consumo
de álcool no Brasil é superior à média mundial, diz OMS” onde, citando como
fonte uma matéria publicada no Jornal Estadão em 2014, menciona que em 1985, o
consumo anual per capita de álcool do brasileiro não chegava a 4 litros. Em
contrapartida, o Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São
Paulo publicou no seu portal na internet em 21/02/2022 um artigo com o título “Pandemia eleva consumo de bebida alcoólica no
mundo; Brasileiro supera marca mundial” onde apresenta dados recém-divulgados
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) dando que atualmente o consumo
anual per capita de álcool no Brasil é de 8 litros, enquanto a média mundial é
de 6,4 litros. O texto também informa que nas Américas morrem anualmente cerca
de 300 mil pessoas por razões ligadas ao consumo excessivo de bebidas
alcoólicas.
E
não para por aí. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro do Fígado
(Ibrafig), e divulgada em diversos veículos midiáticos em dezembro de 2021,
mostra que 55% da população brasileira tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas,
sendo que 17,2% delas declararam aumento do consumo durante a pandemia de
Covid-19, associado a quadros de ansiedade graves por conta do isolamento
social. De acordo com o levantamento, uma em cada três pessoas no país consome
álcool pelo menos uma vez na semana. O consumo abusivo de bebidas alcoólicas
foi relatado por 18,8% dos brasileiros ouvidos na pesquisa. O resultado nos
mostra que a população tem um consumo importante de álcool, com frequência e
numa quantidade significativa a cada ocasião.
Outra manchete alarmante: “Consumo de bebidas alcoólicas cresce 93,9% na
quarentena”, publicada no Portal PebMed, referente à matéria que aborda dados
da OMS divulgados em fevereiro de 2021. As fontes são muitas e bem fáceis de
encontrar.
Veja
só, caro leitor, eu espero que você não tome esta abordagem como mero moralismo
gratuito. Eu realmente acredito na lógica do livre-arbítrio e, quer a gente
goste disso ou não, a Natureza [o Cosmos, Deus, ou como queira chamar a
estrutura causal da realidade] se encarrega de fazer com que cada ação tenha a
sua reação proporcional. Só que, quanto mais informações tivermos, [pelo menos
em tese] maior será a nossa capacidade de analisar e refletir sobre nossas
atitudes e, quiçá, fazermos delas fontes de consequências que nos sejam mais
favoráveis. Se você bebe excessivamente e prejudica apenas a si próprio, eu não
tenho mais nada a dizer. Apesar de lamentar, entendo que você está exercendo
seu livre-arbítrio e o problema é seu. Agora, se depois de encher a cara você
prejudica outras pessoas, então o problema não é apenas seu. Esse é o ponto. O
problema não é beber, mas sim o que você faz depois de estar bêbado. No
Evangelho Apócrifo de Tomé, Jesus diz: “o que entra pela boca não o torna um
homem impuro, mas sim o que sai da boca, isto vos tornará impuros”. Poucos
versículos depois, o Cristo adverte: “Agora estão bêbados, e só se converterão se abandonarem o seu vinho”. Perceba
que a repreensão é contra a embriaguez, o
excesso.
No
capítulo destinado às Qliphoth, em A
Cabala Mística, Dion Fortune bate muito nessa tecla, de que os excessos nas
atitudes humanas é que constituem “o Mal positivo e dinâmico” que fortalece os
demônios. Migene González-Wippler reforça esse entendimento em Jesus e a Cabala Mística, ao propor que
a influência das Qliphoth e seus respectivos demônios “está diretamente relacionada
com excessos de qualquer espécie”, e exemplifica afirmando que “assim, um
excesso de amor gera ciúmes e possessividade, um excesso de desejo sexual
produz luxúria, um excesso de ambição material dá origem à avareza, até que
toda a variedade de qualidades e inspirações humanas é degradada e aviltada”.
E
as consequências desse processo? Algumas são bem diretas e claras, como a
violência no trânsito. Um levantamento realizado pelo Laboratório de
Toxicologia Forense, da Polícia Civil do Espírito Santo, revelou que 48% das
vítimas fatais de acidentes de trânsito no estado em 2020 estavam sob o efeito
de drogas, majoritariamente, álcool. Estou citando o exemplo do Espírito Santo
porque os dados estão aqui, mais ao alcance da mão, mas, uma rápida pesquisa
revela que na maioria dos demais Estados brasileiros as estatísticas são
semelhantes ou ainda piores. Poderíamos também falar sobre violência doméstica.
Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), realizado com sete
mil famílias em 108 cidades do Brasil, comprova que o álcool funciona como
"combustível" da violência doméstica. E a violência impulsionada pela
bebida alcoólica persiste, na maioria das vezes, por mais de dez anos. O estudo
aponta que a gravidade das agressões é maior quando há ingestão de bebida. O
uso de armas e o abuso sexual, tanto ameaça quanto consumação, ocorreram,
respectivamente, numa proporção dez e quatro vezes maior, quando comparados aos
domicílios nos quais o agressor não estava sob efeito do álcool.
Se a situação piorou com a pandemia
de COVID-19, é fato que a relação entre álcool e violência em geral não se
configura em novidade no Brasil. Ainda em 2005 os pesquisadores Ronaldo
Laranjeira, Sérgio Marfiglia Duailibi e Ilana Pinsky da Unidade de Pesquisa em
Álcool e outras Drogas (UNIAD) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
publicaram um artigo onde consta que “estatísticas internacionais apontam que
em cerca de 15% a 66% de todos os homicídios e agressões sérias, o agressor,
vítima, ou ambos tinham ingerido bebidas alcoólicas; da mesma maneira, o
consumo de álcool está presente em cerca de 13% a 50% dos casos de estupro e
atentados ao pudor. No Brasil, dados do Cebrid apontam que 52% dos
casos de violência doméstica estavam ligados ao álcool”. Eu convivi por um bom
tempo quase que diariamente com policiais militares e eles me disseram, por
diversas vezes, que aqui na nossa cidade, de cada cinco chamadas emergenciais
recebidas, quatro eram “casos de Maria da Penha” e que, na quase totalidade das
circunstâncias, uma ou ambas as partes envolvidas estavam alcoolizadas.
Infelizmente, penso que na maioria das cidades brasileiras a realidade não deva
ser muito diferente.
Acredito que as consequências no
Plano Físico estão bem ilustradas. Mas, e no metafísico? Conforme já
mencionamos anteriormente neste ensaio e no anterior, quanto mais pessoas
vivenciando sentimentos, pensamentos e atitudes negativas, mais energia emanam
para nutrir os demônios correspondentes àquelas vibrações. Com isso, essas
entidades maléficas se fortalecem e mais difícil fica para o ser humano médio
se manter imune às suas influências. São os momentos em que a balança fica desequilibrada
e os riscos aumentam. Contudo, ainda mais perturbadora me parece aquela lógica,
também já mencionada, de que, por afinidade, pela simples relação causal de que
“semelhante atrai semelhante” um indivíduo que venha a desencarnar vivenciando
tal realidade, tende a ser tragado pela Qliphah demoníaca afim tão logo adentre
ao Plano Astral. Não sei quanto a você, prezado leitor, mas a mim é
desconcertante a hipótese de viver consumido pelos vícios na dimensão material
e, depois de morto, se tornar escravo de entidades diabólicas, quiçá por qual
imensidão de tempo, e sendo sujeitado a sabe-se lá que horrores inerentes às
esferas demoníacas.
Tudo isso é mero exemplo, motivado
pelo que me vem à mente cada vez que dirijo pela cidade à noite e vejo bares
lotados, gente bebendo nas calçadas, diante de lojas de conveniência e
distribuidoras ou recantos escuros de praças e parques – muitas vezes
adolescentes e até crianças, com seus repulsivos “kits” compostos por energéticos
de quinta categoria e destilados vagabundos. E as outras drogas? Sobre essas
nem vamos nos ater, pois seria preciso escrever um livro ao invés de um mero ensaio.
Você, que leu até aqui, com certeza entende a lógica disso. Estamos apenas
arranhando a superfície do problema. Poderíamos expandir os questionamentos
similares sem esforço: o que dizer sobre essa necessidade paranoica de se obter
likes e visualizações em redes
sociais, muitas vezes para isso ultrapassando qualquer limite do bom-senso? E a
epidemia de procedimentos estéticos, que não raramente resultam em
consequências irremediáveis? E a “ditadura da magreza”, apontada por inúmeros
profissionais da área da saúde como causa direta de graves distúrbios, como
depressão, ansiedade, anorexia e bulimia? Os demônios da Vaidade se refestelam.
E não podemos deixar de mencionar ainda este ódio, que aparentemente irrompe de
uma deformação consciencial pseudopolítica e que hoje infesta a psicosfera como
uma praga nauseabunda de radicalismo e intolerância, levanto incautos a
colecionarem atritos e desarmonias [que, por vezes, nitidamente beiram a
psicopatia] nas relações sociais, profissionais e familiares ao ponto de, não
raro, descambar para a violência. Acredito que as chamas de Golachab devem estar crepitando com
muita intensidade no Plano Astral.
E de nada ajuda adentrar ambientes,
que aparentariam aos desavisados serem menos propícios à infestação demoníaca,
e perceber todo mundo [às vezes famílias inteiras] ignorando a presença uns dos
outros por estarem grudados nas telas de seus celulares. Já vi, por diversas
vezes, adultos entregando celulares nas mãos de crianças pequenas [algumas,
pouco mais do que bebês] simplesmente para que parassem de chorar e lhes
deixassem em paz. Eu convivo regularmente com professores, profissionais da
área da saúde e simplesmente pais de adolescentes e tenho ouvido o tempo todo
que nunca houve tantos de casos de depressão, ansiedade [e outros problemas
psiquiátricos] como agora, além de um aumento absurdo no número de suicídios e
tentativas de suicídio. Já há estudos confirmando essa triste realidade, tanto
no Brasil como em outros países e alguns deles já estão publicados na internet,
basta pesquisar. E qual é a queixa que mais acompanha a grande maioria das
manifestações de preocupação com jovens e crianças, quase como se fosse um
anexo? Isso mesmo, o apego desmedido e abusivo dos celulares [e, por
consequência, da internet]. O que há por trás dessas telas? Para alguns,
decerto, nada de mais, porém, para outros tantos, deve haver frequentemente a
sombra tentadora de algum demônio impregnada entre megabytes de informação,
procurando uma oportunidade para transcender a barreira do digital e impregnar
a alma humana.
Para concluir, não devemos nos esquecer
do que foi mencionado anteriormente sobre as Qliphoth: o que lhes dá
sustentação e alimenta os demônios que nelas habitam são os nossos excessos. O Estoicismo nos diz que os
excessos constituem os vícios e os vícios são as doenças da alma. Como nem tudo
está perdido, essa vertente filosófica também nos indica o remédio [ou, mais
adequadamente, a profilaxia] para esses males: a virtude cardinal da Temperança [alguns preferem termos como
“moderação”, “comedimento”, “equilíbrio”, “ponderação”, entre outros]. Se tivéssemos
mais em conta esse predicado, tão abordado, sob diferentes formas, em inúmeras
correntes místicas, filosóficas e ocultistas em geral, e magistralmente
representado na carta XIV dos Arcanos Maiores do Tarot, certamente teríamos
muito menos problemas com as forças negativas do Plano Astral. Felizmente, para
contrapor estas forças negativas, há também as positivas, comumente chamadas de
“anjos” [mas que possuem muitas outras designações] a quem podemos recorrer em
nosso auxílio.
Como este texto já ficou mais
extenso do que o previsto, trataremos mais detalhadamente das formas de
proteção contra os demônios e a subsequente interação com as energias benéficas
do Plano Astral no próximo ensaio. Em breve.