Por
O Relator da Noite
No
primeiro e no segundo ensaios desta série, acreditamos ter elucidado o que são
os demônios aos quais nos referimos e porque acreditamos que a realidade
consensual em que vivemos se encontra completamente infestada por eles. Embora
nos textos anteriores já tenhamos feito algumas breves menções acerca de como
se proteger da influência demoníaca que impregna a psicosfera do nosso mundo,
agora iremos detalhar um pouco mais o assunto.
Inicialmente,
devemos nos lembrar da natureza parasitária dos demônios. Embora possam se
manifestar de forma inteligente quando as circunstâncias são propícias, eles
não são, em essência, mais do que formas-pensamento elementais, emanadas por
consciências primordiais. Por isso sua atuação junto aos seres humanos é mais
instintiva do que qualquer outra coisa, movida pela busca de nutrição que
garanta seu fortalecimento. Em Magic:
White and Black, Franz Hartmann diz que essas criaturas “seguem o empuxo da
atração cega da mesma forma que a limalha de ferro é atraída por um ímã; onde
quer que haja condições propícias ao seu desenvolvimento, para aí elas são
atraídas”, e ainda acrescenta que “esses elementais vivem no reino da alma do
homem, e enquanto ele viver, fortalecem-se e engordam, pois vivem do princípio
vital dele e nutrem-se dos pensamentos que emite”. Segundo o autor, os demônios
não apenas são as manifestações das
emoções negativas da humanidade como também se retroalimentam da energia
psíquica emanada pelas pessoas “contaminadas” por essas emoções, propagando
assim um ciclo de ação e reação de natureza metafísica.
Na obra
supracitada, Hartmann afirma que, uma vez que os demônios já estejam
impregnados no campo áurico de um indivíduo, “não podem ser eliminados por
cerimônias religiosas, nem exorcizados por clérigos; só podem ser destruídos
pelo poder da vontade espiritual do
homem divino, que os aniquila como a luz elimina as trevas ou um raio rasga as
nuvens”. Aqui, quando o autor fala em “destruir” e “eliminar”, devemos entender
como a remoção dos demônios da esfera psíquica da pessoa, pois estes seres não
podem ser extintos em definitivo até que haja algum humano receptivo a
atraí-los [por afinidade energética], hospedá-los e nutri-los. Contudo, a vontade
férrea citada pelo autor como requisito para se manter em um estado vibracional
elevado que seja incompatível com a influência demoníaca não é um estado de
consciência tão fácil de ser alcançado e menos ainda de ser mantido de forma
prolongada. Em suas palavras: “Somente os que despertam para a consciência
divina espiritual possuem esse tipo de vontade, da qual os não-regenerados nada
sabem”. Porém, “aqueles que ainda não estão assim avançados podem imputar morte
lenta a esses Elementais, retirando deles o alimento de que necessitam,
simplesmente não desejando ou recusando-se a desfrutar sua companhia e não
consentindo voluntariamente na sua existência”.
Com base
no panorama que procuramos expor no ensaio anterior, não é difícil concluir que
é praticamente impossível nos dias atuais se manter imune ao assédio de alguns
[ou muitos] demônios. O que pode variar imensamente é a maneira com que cada
pessoa lida com isso. Tendo em vista o que nos parece ser o estado consciencial
do indivíduo médio da nossa sociedade, pode-se supor que uma quantidade
absurdamente grande de gente se debate cotidianamente em meio aos vícios, à
desarmonia e a negatividade que tanto atrai quanto nutre os seres maléficos.
Nos
casos em que a contaminação demoníaca [muitos autores prefeririam o termo
“possessão”] já é um fato consumado, quando as sombras das Qliphoth já
encaminharam o sujeito no rumo da autodestruição e a sua degradação psíquica já
é tal que ele não consegue sequer esboçar a “vontade férrea” necessária para
expulsar os demônios do seu campo áurico por conta própria, então ele
inevitavelmente precisará ser socorrido por terceiros. Em circunstâncias assim,
toda ajuda deve ser considerada. Uma coisa que eu percebo é que muita gente
esquece de nossa natureza multifacetada, tão bem expressa nos quatro elementos
simbólicos representados pela Terra (físico), Ar (intelectual), Água
(emocional) e Fogo (espiritual), de forma que um “tratamento” bem-sucedido
deveria atuar sobre todos esses níveis que, apesar de intrinsecamente interligados,
possuem suas particularidades. Obviamente, cada caso precisa ser analisado
individualmente para então se cogitar as melhores possibilidades, que poderiam
ir desde acompanhamento terapêutico com psicólogo ou psicanalista, atividades
físicas, uso de medicamentos alopáticos ou homeopáticos [sempre receitados por
profissional da área], até alguma(s) entre as inúmeras opções de intervenções
alternativas, como, por exemplo, reiki e acupuntura.
Contudo,
acredito que, em paralelo com uma ou várias das possibilidades citadas acima, a
intervenção específica no campo espiritual
é indispensável. Todos os sistemas magísticos e vertentes de natureza mística
possuem seus métodos de exorcismos, banimentos, desobsessões, descarregos, etc,
e não tenho dúvida de que todos eles funcionam para algum tipo de pessoa. O
ponto-chave é encontrar a opção que melhor se harmonize com o perfil específico
de cada indivíduo. Particularmente, posso falar em favor dos ritos do Candomblé
e da Umbanda [a qual frequento regularmente], que, no meu entendimento, são
extremamente eficazes quando realizados em locais sérios e por pessoas
capacitadas.
Mas,
nada do que citamos até aqui é suficiente por si só. Em um texto anterior
mencionei um exemplo de algo que eventualmente presencio na Umbanda e ilustra o
fato de que, para se livrar de um demônio não basta afastá-lo, mas também
cessar o comportamento que o atrai. O que acontece algumas vezes é que a pessoa
chega ao terreiro com um “encosto” [que pode ser um espírito desencarnado ou um
demônio envolto em suas respectivas energias negativas] e então ela passa pelo
descarrego e essas forças maléficas são removidas, saindo dali com seu campo
áurico purificado. Contudo, se ela não modifica os padrões de pensamentos, sentimentos
e atitudes que atraíram o ser negativo anteriormente, é só uma questão de tempo
até ela granjear outro semelhante. É preciso a reforma íntima, como dizem os espíritas, a ascese de algumas seitas gnósticas, a prática de lapidar a pedra bruta, como se diz na
Maçonaria.
A
urgência em se buscar vivenciar padrões vibratórios mais elevados decorre
também do fato de que os demônios raramente atuam sozinhos. Quando um deles
consegue se infiltrar no campo consciencial de algum indivíduo, imediatamente
sua atuação começa a provocar um rebaixamento vibracional que,
consequentemente, torna a vítima propícia e vulnerável à infestação. Isso pode
ser muito bem ilustrado nas passagens bíblicas de Mateus 12: 43-45, citando o caso de um demônio que foi expulso de um
homem por Jesus mas que, tempos depois, ao perceber a “porta aberta” e
convidativa, retornou ao hospedeiro trazendo consigo outros sete demônios ainda
piores do que ele, e também em Marcos 5:9,
onde Jesus indagou a entidade que estava possuindo um sujeito “e perguntou-lhe:
Qual é o teu nome? E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos
muitos”. Guardadas as proporções, é possível que todo mundo já tenha
presenciado algo assim [ou pelo menos ouvido falar] na realidade cotidiana. Algum
caso instigado pela Luxúria, motivado
pela Avareza ou desencadeado pela Inveja, que posteriormente atraiu a Ira e descambou em violência. Sob a
ótica dos Demônios dos Sete Pecados Capitais, é fácil traçar paralelos. Basta
ler os jornais ou conferir os noticiários para ter acesso a uma gama
perturbadora de exemplos.
Tendo em
vista tudo isso, nos parece evidente que buscar a profilaxia é preferível do
que ter que depender de tratamentos. Mantenho a opinião, já expressada em
outros momentos, de que, para fins práticos, é muito pertinente a recomendação
exaustivamente frisada por Allan Kardec ao afirmar que a melhor forma de
afastar a influências dos espíritos obsessores é atraindo a presença dos
espíritos benévolos. Pragmaticamente, o que vale para os espíritos dos mortos
vale também para os anjos e demônios. No
trato com esses habitantes do Plano Astral, é muito fácil perceber que nossos
pensamentos fazem com que eles nos notem, nossos sentimentos os atraem e nossas
atitudes os tornam nossos aliados ou algozes, dependendo do caso. E por
falar nos anjos [que podem receber inúmeras outras denominações, de acordo com
o contexto], também já expusemos em outro ensaio nosso entendimento de que eles
têm uma existência tão real quanto a dos demônios e sua natureza é análoga a deles,
mas, obviamente, com a vital diferença de que os seres angelicais atuam através
das emoções positivas, instigando nos homens, por assim dizer, sua propensão a
agir em prol da harmonia e da evolução. Ter proximidade com entidades de
padrões vibratórios elevados é uma óbvia maneira de manter afastadas as
energias maléficas, e muitos sistemas magísticos e ordens esotéricas possuem
métodos para invocar ou evocar tais seres, não sendo difícil de se obter mais
informações a respeito.
Penso
ter deixado suficientemente claro o porquê de acreditarmos que o contato com as
forças de outros planos da existência ocorrem até mesmo em meio a situações banais
do cotidiano, ainda que a grande maioria das pessoas não se dê conta disso. É
pela mais pura afinidade [semelhante atrai semelhante] que nossos padrões de
pensamentos, sentimentos e atitudes definem se teremos anjos ou demônios
atuando em nossas vidas.
Existe
ainda um último ponto que eu gostaria de abordar antes de encerrar este texto.
Trata-se dessa dimensão extrafísica da realidade [com suas múltiplas
subdivisões] que no Espiritismo é frequentemente designada como “Psicosfera” e
que na maioria das vertentes ocultistas é chamada de “Plano Astral”, ainda que
também seja corriqueiro entre determinados autores termos como, por exemplo,
“Campo Akáshico”, “Éter”, “Luz Astral”, e que, na visão de alguns, consiste em
uma interpretação mística do “Inconsciente Coletivo” junguiano. Esse é o nível
da existência onde subjazem os demônios e os anjos e, consequentemente, onde
pululam as forças anímicas a eles correspondentes e que se manifestam na aura
humana por meio das emoções. Como nessa dimensão a lógica do espaço-tempo não
está sujeita às mesmas restrições do Plano Físico, todo conteúdo emanado por
qualquer consciência que exista ou tenha existido em nosso planeta [em qualquer
local ou época] pode exercer influência sobre outras, uma vez que, em um nível
muito profundo, todas estão emaranhadas em um mesmo substrato energético
primordial. Na obra Elementargeister,
Hartmann aborda o tema afirmando que um pensamento-entidade que habite o Plano
Astral, proveniente de uma consciência que pode até mesmo tê-lo emanado em
alguma era remota ou algum lugar longínquo tem condições de influir em outra
parte do mundo sobre este ou aquele homem predisposto, amadurecer em sua mente,
e tornar-se operante dentro dele.
A
conclusão que disso decorre é que todo indivíduo empenhado em refinar seu
padrão de pensamentos e emoções está não apenas atuando em seu próprio
benefício ao manter afastada a ameaça demoníaca como também está contribuindo
com o bem-estar de toda a humanidade, ao deixar de fortalecer os demônios e,
consequentemente, diminuir a esfera de influência das Qliphoth por eles
habitadas. Este é o motivo pelo qual escrevo estes ensaios esquisitos. Talvez
seja pretensão, mas penso que, se entre os inúmeros leitores, apenas um
acreditar que estas linhas tiveram alguma serventia para a sua reflexão e
subsequente expansão da consciência, então já valeu à pena. Se, por outro lado,
todo mundo achar que isso não passa de bobagem sem pé e nem cabeça, mesmo assim
está valendo, porque ao produzir este material eu estou estudando e aprendendo
cada vez mais. Se uma única pessoa acredita que está evoluindo em algum
aspecto, por mínimo que seja, então o mundo inteiro está evoluindo junto. Sempre
lembro daquela máxima de Platão: “Nunca desencoraje ninguém que
continuamente faz progresso, não importa quão devagar”.
Eu não
me considero nenhum exemplo de otimismo, mas quero acreditar que um dia [quiçá
daqui a alguns séculos] o nível consciencial da humanidade vai ter se elevado
ao ponto de a harmonia de pensamentos, sentimentos e atitudes não ser mais
compatível com a presença de nenhum demônio. Talvez será o ápice da “Transição
Planetária” tão alardeada pelos espíritas, ou o apogeu da “Nova Era” idealizada
por tantas correntes esotéricas e pode ser que daí então estaremos finalmente livres.