Por Clayton Alexandre Zocarato
Tudo ficará na escuridão...
Um gosto de fel, submetido a sangue espalhado pela calçada, almejando a próxima vítima.
As marcas da violência ficaram permutadas em cada beco escuro mal cheiroso daquela cidade, com um gosto asco, procurando conter encontrar algum significado para tamanha barbaridade humana.
Toda a sua alma havia sido corrompida, por gritos intermitentes, de pecados, que poderiam serem consumidos, como um sinal de implorar para alguém, ou para algum ser, que assim aliviasse seu jugo mortal de selvageria, que viesse trazer algum alento para sua culpa.
Não sabia ao certo o que seria depois de “sua passagem”.
Se, encontraria com “Caronte ou com o próprio Anjo Da Morte”? Renascendo entre brumas de uma escuridão, que assim o fizesse conter alguma paixão, e voltasse a enxergar algum sinal de clemência, perante todos os seus crimes.
Estava agora, vegetando em uma cela, na companhia de ratos, com paredes repletas de mofos, e goteiras melodiosas no teto preste a cair, que revelavam a estrutura precária daquela prisão secular.
Do alto da janela defronte ao seu catre, via a corda entrelaçada, esperando-o até o cadafalso.
Sabia, se seu pescoço quebrasse, com impacto da queda, não haveria muito de sofrimento e que sua agonia estaria comiserada a um suspiro de piedade.
Caso isso não acontecesse, iria padecer de uma penúria corporal tremenda, ao ficar se debatendo, de pendurado, sem conter o fluxo suficiente de oxigênio, que chegasse aos seus pulmões e assim pudesse lhe oferecer um pouco de ar, para tentar fugir daquele azar, de estar sendo o espetáculo principal, de uma conjuração de “justos homens”, que no fundo escondiam todas as suas precárias satisfações pecaminosas, e de que através das execuções sistemáticas, se escondiam entre os seus delírios de justiça, que no mais só seria uma vingança perpetuada, contra aqueles que possuíam condições mínimas de vida e dignidade, demarcando assim para sempre um forte sentimento de concentração de classe para os mais humildes
Tudo seria consumado em questões de horas.
O carcereiro serviu sua última refeição.
Um seboso prato de arroz, com um sobrecoxa de galinha gordurenta, proveniente do viveiro da prisão, que continha mais ossos do que carne.
De inicio desdenhou de tudo aquilo, mas aos poucos foi “caindo sua ficha”, em pouco tempo sua cela, seria um passeiódromo para os camundongos, que confortavelmente caminhavam por seu corpo cadavérico durante praticamente todas as noites, e que assim, a partir daquele momento estariam com todo o espaço físico do cárcere, para prosseguirem com suas proliferações pestilentas.
Não estava com medo, mas também não estava de peito aberto para enfrentar os perigos, de passar para “o outro lado da vida”, onde sabia. não estaria em vantagem em barganhar algum tipo de clemência com o “Criador”.
- Clemência?
- Isso seria muito, para um ser humano como eu. Nunca tive esse sentimento por nenhuma de minhas vítimas, sendo assim, quando viesse a me subverter algum predicado de perdão, isso seria um próprio rebaixamento de minha moral, em ter uma mente sádica, que se deliciava com qualquer tipo de dor alheia.
Pensava ininterruptamente na sua carreira de Serial Killer.
Foi perfeitamente virtuoso durante muitos anos em desafiar a policia, e a deixar investigadores, inspetores, e praticamente toda força de segurança pública em alerta geral, para que protegessem incessantemente, todos aqueles infelizes da dita boa classe social, que escondiam em posições abastadas cretinas, bem como também não escondia sua repugnância pelos mais famigerados
Matar para ele, era como tecer uma obra de arte doente, que assim revelava a pior face do ser humano, e pela qual continha um orgulho, que não era comum, tanto que quando foi encarcerado, não teve o menor receio de negar seus crimes.
- Dancei prazerosamente meu frenesi de maldade, pelos quais toda civilidade e inteligência hipócrita desses mortais patéticos, não foi capaz de dar conta de minha virtuosidade assassina, que não conseguiram parar, todo o meu saciar de sangue alucinado. Não poupei ninguém, desde crianças, velhos, mulheres, gays, héteros, lésbicas, pobres, empregados e patrões, ateus e crentes, minha lâmina dilacerou como nunca, gargantas contendo, os piores tipos de injúrias, e aos quais fiz todos literalmente pagarem por suas línguas afiadas, arrancando todas elas, e demonstrando para essa corja de cretinos, que se dizem pessoas de bem, como as leis protegem apenas os que se submetem as suas vontades particulares e egoístas, que promovem as piores desigualdades, com um discurso funesto de ética, visando manterem as tradições de ricos e abastados, que assim fazem com que os mais carentes fiquem sempre dependentes de seus desejos e boas vontades. Como também, não perdoei essa raça de esfomeados que promovem uma série de patéticos chamativos psicológicos socais, de sempre ficarem vivendo em uma pobreza, que muitas vezes não passa de uma desculpa esfarrapada, para continuarem na mendicância plena e eterna, vivendo nas custas dos outros.
- Ou seja, me deliciei com todos, sem exceção, meus delírios assim foram saciados, como uma sentencia infernal, dada pelo próprio Satã a mim, para assim lembrarem para toda a humanidade, que vocês, tem contas para acertarem com o destino mais cedo ou mais tarde.
- Deixei entranhas espalhadas por todos os cantos dessa cidade, que se diz tão temente a Deus, mas que se esquecem que há muitos outros caminhos translúcidos para causar mortes brutais e destruição da paz alheia. Fiz do terror do assassinato, cores a serem pintadas, cheios de dores, repletos de horrores, que deram um tom de melodia infernal, sem intervalo da imundice, que a alma humana detém em sua perfídia, situação de dependência material e metafísica, em se apegar a alguma crença, ou cultivo de ídolos e mitos, que viessem supostamente a afastarem todos de sua culpa particular.
- Uma culpa que adorei fazer, com esses mortais, lembrando-os que mesmo quando se escondem perante seus quartos, eu pude realçar minha virtuosidade em matar-los, e espalhar um sentimento de medo constante entre essas pessoas.
- E como o medo é bom. É uma agastada situação de fugir do sistemático júbilo das regras sociológicas mais imbecis, que nos eleva para uma realização individual, de colocar todos nossos desafetos, perante nosso jugo, e assim ser tanto juiz, como promotor, que faz com que implorem por suas vidas, enlatadas pelos seus pecados mais sórdidos, que mesmo assim ficam na hipocrisia de se fazerem de “bonzinhos”, mas que no fundo não passam de mais algum criminoso, senil, cruel e vagabundo como eu sou.
- A única diferença minha entre vocês ditos pessoas inocentes, para mim, é que não tenho vergonha nenhuma em admitir e fazer minhas monstruosidades, seja elas com quaisquer pessoas, e que assim fui sendo envolvido, sempre naquela acusação patética, de como Deus ou Natureza poderia ter gerado uma mentalidade tão doentia, como minha.
- Ora bolas, porque insistem em pronunciarem palavras boas e eloquentes para justificarem suas atrocidades, de ficarem vivendo obsessivamente em meios os seus luxos pecadores, que servem unicamente para manter uma aparência de boa índole, que se perde em vícios, e mediocridades comportamentais, que estão em torno de consolidar, um orgulho de individuação muito egoísta, em sempre fazer dos mais carentes, uma desculpa da culpa da predestinação privilegiada, ao qual “uns nascem agraciados e abençoados, e outros nascem comum menos sorte, tendo que pagarem por isso?”.
- Pois bem, eu sou a má sorte de todos vocês.
- Vai ser muito fácil me executarem, como sempre fazem com aqueles que os desagradam.
- Mas eu sei, que desagradei e muito, e não arrependo disso.
- Mas todos detêm algum tipo de culpa no “cartório”.
- Então não adianta justificar minha conduta por conta de alguma tentação, ou justificar como me tornei uma aberração por algum tipo de trauma ou moléstia mental, sendo que sou fruto de todas as suas indiferenças, pois não tive nem o direito de ser pobre, pedinte, andarilho, ou qualquer outro tipo de miserável possível, me foi outorgado tornar-me, ou seja, nenhuma estética “comum” de maldade, que os ditos seres civilizados condenam, e tentam a todo o custo esconderem, mas que no fundo não fazem mais do que realçar, me foi dado direito de servir, fazendo assim uma série de atitudes sacramentadas pela minha condenação e de outros infelizes, como uma forma teatral de esconder seus piores pecados, como sendo uma indiferença coletiva, e uma concentração de sarcasmo disseminados para os mais carentes.
- Ou seja, me tornei a imagem de todos os seus piores anseios e desejos.
Terminada toda essa autoconfissão, sabia que os ponteiros dos relógios estavam caminhando lentamente, que o seu derradeiro fim estava mais do que próximo do que nunca.
Sua existência foi à construção em salientar, os mais cruéis desejos e pecados, que foi envolvida a humanidade, se constituindo uma estética, de não conter nenhum sinal de compaixão perante aqueles que sofriam dos piores delírios de saudade ou descaso, pelo qual seu ímpeto psicótico, não tinha feito a menor questão de perdoar.
Todo o espetáculo judicial para a execução estava pronto.
O Capelão do presídio daria a extrema-unção, e ouviria sua confissão.
- Me confessar? Isso soa como a mais pura heresia, pois tudo o que fiz, não me arrependo nenhum pouco, então vamos logo por um fim nisso tudo por gentileza.
Seus delírios seriam finalmente silenciados, mas os efeitos de seus frutos macabros, para sempre estariam impregnados, no seio dos familiares, das pessoas que padeceram sobre sua fúria assassina.
Foi sendo conduzido lentamente, para a forca.
A cada passo, ouvia todo tipo de xingamento, mas gostava de toda aquela virtuosidade de revolta massificadora, que crescia contra sua imagem.
Havia conseguido um pouquinho de gloria e atenção finalmente.
- Vou morrer daqui alguns minutos, mas nada poderá apagar meus feitos assassinos mais dilacerantes, que destroçou corpos como um exército pronto para marchar sobre o inimigo indefeso. E também, para onde minha alma está destinada, não vai ser muito diferente, para muitos de vocês, hipócritas descrentes da boa fé, que apenas lembram de exaltar o mito de Deus, quando sofrem algum tipo de malefício.
- Deveriam é me agradecerem isso sim. Pois assim aproximei vocês mais do Criador como nunca antes, e que através de seus devaneios de virtuosidade, em serem classificados como pessoas boas, no fundo realmente só pensam em saciarem seus desejos mais viris. Então não precisam ficarem com toda essa falsidade de chorarem e lamentarem por aqueles, fiz se apresentarem á Deus antes do chamado oficial do próprio, sendo um pouquinho mais cedo, pois sei que assim que a última pá de terra desceu sobre os caixões de minhas vítimas, poucos se importaram realmente, e que assim só foram mais alguns instrumentos para suas reuniões sociais patéticas e idolatras, que escolheram a mim, como algoz principal, para justificarem seus mesquinhos sensos de justiça, que somente desejam por algum momento, poder conter um ávido sentimento de punir alguém como sendo exemplo para sua idiotices sociais em nome dos bons costumes.
- Uma tremenda hipocrisia, mas fazer o que? Se todos servem para algum objetivo, eu servi para “arranjar mais filhos para Javé”, que possam assim estar, defronte Deus diretamente, mas como realcei, logo todos nós nos veremos novamente.
E assim foi sendo levado para o momento crucial de sua vida devassa.
- Tens alguma coisa para dizer, antes que sentença seja efetuada? Pergunta o carrasco.
- Não muito, mas já que perguntou, digo a vocês, que depois de mim virão outros delirantes homicidas, aos quais diante suas falsas virtudes também serão julgados, mas nada os livrará das nossas memórias sanguinárias, que deixaremos para toda a posteridade. Ou seja, para sempre o mal se reinventará lembrando aos ditos “Filhos de Deus”, de que alguma forma seus pecados serão julgados e apresentados, seja aqui nesse mundo ou no outro, vocês pagarão por suas falhas, assim como eu, mas que diferente de vocês não tem medo, da morte, pois eu represento a própria a morte.
Tendo acabado seu discurso, o cadafalso se abriu.
Um clique, e tudo acabado.
Não houve ninguém que reclamasse o seu corpo.
Estranhamente depois da sua execução, uma série de outros assassinatos em série recomeçou naquela cidade, usando sempre a degolação e o esquartejamento como método principal, assim como o último enforcado havia feito, e confirmando assim a sucessão do mal, que para sempre estaria presente naquela sociedade feita de maquiagem.
O delírio mortuário, não acabaria assim tão facilmente.